A CIDADE DO SOL ESTÁ NO AFEGANISTÃO

A CIDADE DO SOL ESTÁ NO AFEGANISTÃO

“A Cidade do Sol” é um livro escrito pelo famoso autor Khaled Hosseini, retratando a vida de mulheres afegãs. A história se passa entre a década de 50 e 90 no Afeganistão, mais especificamente na capital Cabul, e conta a história de duas mulheres completamente diferentes, mas que acabam conhecendo um destino semelhante: Mariam e Laila.

Mariam ficou no sofá, as mãos entre os joelhos, observando os redemoinhos de neve retorcendo e girando pela janela. Lembrou-se de Nana dizendo uma vez que cada floco de neve representava o suspiro de uma mulher magoada em algum lugar do mundo. Que todos os suspiros subiam ao céu, reuniam-se em nuvens, depois se partiam em pedacinhos que caiam em silêncio nas pessoas abaixo.

Como uma lembrança de quanto mulheres como nós sofrem, explicara. Como aguentamos em silêncio tudo o que se abate sobre nós.

‘Mariam’, A Cidade do Sol.

Mariam

Mariam, originalmente de cidade de Herat, é uma Harami — uma bastarda. Seu pai, um rico homem de negócios, a teve fora do casamento. Isso fez com que a garota crescesse isolada de tudo e todos, com apenas mãe, Nana, como companhia constante e as visitas periódicas de conhecidos e do progenitor.

Sua história tem uma reviravolta trágica quando Nana morre e Mariam se encontra sem rumo. Após ser negada pelo pais e suas esposas, ela é forçada a se casar com um homem trinta anos mais velho, um completo desconhecido. Assim, é enviada para a cidade de Cabul, local em que passa a viver.

— Aprenda isso agora e aprenda bem, minha filha: assim como a agulha de uma bússola aponta para o norte, o dedo acusador dos homens sempre encontra uma mulher. Sempre. Lembre-se disso, Mariam.

‘Mariam’, A Cidade do Sol.

Laila

Em 1993, uma adolescente de 14 anos chamada Laila percebe que a vida é mais dura do que poderia ser. Num Afeganistão marcado pelo sofrimento, a jovem se sente sufocada pelas responsabilidades familiares enquanto sua mãe permanece em um estado catártico após ver seus dois filhos irem para a guerra.

Tendo que balancear isso com seu relacionamento com as amigas e uma paixão crescente pelo vizinho, sua vida muda após a chegada do Talibã no país. Apesar de separadas por anos e convivências diferentes, os caminhos de Laila e Mariam se cruzam e ambas percebem que precisam uma da outra para poderem sobreviver.

Harami

Um tema recorrente no livro é a situação de Mariam como uma filha bastarda, uma Harami. Seus direitos são negados e ela é ignorada pelo pai quando mais precisa de sua ajuda. Além disso, o livro relata sua experiência consigo mesmo, a busca pelo amor próprio e a compreensão de que tudo o que aconteceu — inclusive as razões de seu nascimento — não são coisas que ela poderia evitar, ou seja, ocorrências das quais não tem culpa.

Naquela noite eles foram ao Chaman e, atrás de Rasheed, Mariam viu fogos de artifício iluminarem o céu em clarões de verde, rosa e amarelo […] Mas, acima de tudo, sentiu saudade de Nana. Mariam gostaria que a mãe estivesse viva para ver isso. Para ver a filha no meio daquilo tudo. Ver afinal que a alegria e a beleza não eram coisas inatingíveis. Mesmo para pessoas como elas.

‘Mariam’, A Cidade do Sol.

Conflitos étnicos e religiosos

No pano de fundo da história de Mariam e Laila, Khaled Housseini mostra como o contexto bélico da época influencia as vidas de ambas mulheres. Citando acontecimentos históricos, como a invasão comunista ao Afeganistão e a chegada do Talibã ao país, além dos conflitos entre etnias alocadas no território afegão, o autor propõe reflexões importantíssimas sobre como as guerras e os conflitos atingem as convivências de mulheres em situação de crise.

Quais são suas preocupações, seus medos, suas dores? O que é estar perdida numa cidade em que não conhece ninguém? Ou, ainda, como lidar com a perda de todos os seus conhecidos dentro da vizinhança em que cresceu? Todas essas perguntas têm suas respostas em “A Cidade do Sol”.

Para mim é absurdo — aliás, um absurdo muito perigoso — toda essa conversa de que eu sou tajique e você é pashtun e ele é hazara e ele é usbeque. Somos todos afegãos, e isso é só o que devia contar. Mas quando um grupo manda nos outros por tanto tempo… Existe desrespeito. Rivalidade. Existe. Sempre existiu.

‘Laila’. A Cidade do Sol.

Conclusão

A Cidade do Sol é um livro emocionante e cativante. Com um enredo inspirador para uns e trágico para outros, Khaled expressa as diversas facetas do amor e da dor. O autor demonstra a forma como as mulheres do Afeganistão vivem em tempos de guerra e quais são as consequências desses conflito para suas relações familiares. Com certeza é um dos livros mais emocionantes que eu li esse ano.

Talita Soares

Formada em RI pela UFG, leitora nas horas vagas.

2 comentários sobre “A CIDADE DO SOL ESTÁ NO AFEGANISTÃO

  1. Essa foi uma das mas belas e tristes história que já li, amo livros, e nesse eu pude viajar através do tempo, conhecer mulheres corajosas, chorei, sorri, fiquei brava, confusa… Em pensar que não é apenas uma “história” mais sim uma realidade que aconteceu. A guerra é a liderança dos Talibã prejudicaram muitas famílias. Tenho orgulho de Laila e Mariam, duas mulheres guerreiras! Que lutaram juntas.
    Não posso mim calar contra a injustiça que aconteceu, odeio o fato de muitas pessoas brincarem com palavras que no passado causaram ruínas! Não posso me calar sobre a hipocrisia que existe. E me parte o coração saber que os Talibã tomaram Cabul novamente, e suas regras não mudaram nada depois de 20 nos! :(💔😓

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