Resenha “A Outra Face: história de uma garota afegã”, de Deborah Ellis

Resenha “A Outra Face: história de uma garota afegã”, de Deborah Ellis

O livro tem como pano de fundo o Afeganistão dominado pelo talibã, e conta a história de Parvana. Ela é uma garota de onze anos que tem de se fingir de menino para poder trabalhar e sustentar a família quando seu pai é preso pelos extremistas.

Contexto

O Afeganistão é um país islâmico localizado na Ásia, com capital em Cabul. Ele esteve sob controle britânico até 1919, além de ter passado por uma revolução marxista e pelo controle da União Soviética durante o fim da década de 70. Como resultado da invasão, padeceu com um conflito que causou mais de um milhão de mortes, ocorridas, principalmente, por minas terrestres. Depois disso, em 1992, uma guerra civil assolou o país e foi vencida pelo talibã.

Depois que os soviéticos foram embora, as pessoas que estavam atirando neles não quiseram parar de atirar. Então começaram a atirar uns nos outros. Muitas bombas caíram em Cabul nessa época. E muita gente morreu.

A Outra Face: história de uma garota afegã

A obra

É nesse cenário de controle talibã em que o livro se passa. A narrativa deixa claro todo o processo de opressão que as mulheres sofreram, além de fazer algumas comparações com os dias antes e durante a dominação dos terroristas. De mesmo modo, o texto explicita as violências causadas ao povo afegão, que não se submetia às ordens do grupo extremista.

Parvana viu um jovem talibã, que nem barba tinha, levando uma corda na qual estavam amarradas quatro mãos cortadas, como contas de um colar. Ele ria e mostrava seu troféu para a multidão.

A Outra Face: história de uma garota afegã

A obra trata de temas marcantes, como a importância da educação feminina, a persistência e coragem de uma nação, a desigualdade social, o extremismo religioso, a violência da guerra, a visão de crianças dentro de uma sociedade patológica e a opressão de regimes autoritários.

A leitura é ligeira, uma vez que o livro é curto, mas os tópicos tratados são de uma digestão lenta e complicada. Parece impossível aceitar que tais coisas aconteceram. Algo que merece destaque é que, por toda a obra, há o peso da presença de minas terrestres no território do país. No Afeganistão, o índice de mortes causadas por elas é o mais alto no mundo, com 30 a 60 pessoas feridas por mês, de acordo com a BBC.

– Há mais minas em Cabul do que flores – seu pai costumava dizer […].

Parvana lembrou-se também e quando alguém das Nações Unidas esteve em sua classe para mostrar os diferentes tipos de minas terrestres. Ela se lembrava que algumas pareciam com brinquedos: eram minas especiais para matar crianças.

A Outra Face: história de uma garota afegã

O livro é intenso e prende o leitor do início ao fim. As palavras escritas num tom infantil suavizam a dor e a crueldade por trás da realidade sob controle talibã, o que torna o texto tolerável aos leitores mais sensíveis. Essa narrativa é a mais explícita forma de resiliência feminina.

– Nós, os afegãos, amamos as coisas bonitas, mas vimos tanta feiúra que até nos esquecemos de como é bela uma flor.

A Outra Face: história de uma garota afegã

Talita Soares

Formada em RI pela UFG, leitora nas horas vagas.

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