REVOLUÇÃO JOVEM NO EGITO: A PRIMAVERA ÁRABE

REVOLUÇÃO JOVEM NO EGITO: A PRIMAVERA ÁRABE

O Egito é um país discutido por diversos níveis educacionais, seja dentro das escolas ou nas universidades, pois é um território em que as primeiras civilizações humanas começaram a se desenvolver, além de ter sido um dos pioneiros no desenvolvimento da tecnologia humana. Não obstante, o Egito é uma nação bastante antiga, além de possuir um patrimônio histórico impressionante é alvo de diversas visitas por turistas do mundo inteiro. O território egípcio, é hoje em dia, predominantemente árabe, e desempenhou um papel fundamental ao unir os Estados Árabes do Norte da África e Oriente Médio durante o pós-Segunda Guerra. Não obstante, protagonizou movimentos e iniciativas em prol do fortalecimento e autodeterminação dos povos de origem arábica. Com a constante luta em prol dos grupos arábicos, seu comportamento político contraditório em relação aos Estados Unidos na década de 70 e 80, o que resultou em polêmica regional que o afastou da Liga Árabe que ajudou a criar. Anos depois, o Egito conseguiu recuperar seu lugar na organização e seguiu, até a atualidade, como líder cultural do Oriente Médio (CAMPOS, 2014).

Nesse contexto, esse país cheio de história foi um grande atuante em um dos fenômenos que mais marcaram as últimas décadas: a Primavera Árabe. Tal termo ganhou esse nome pelas diversas manifestações ocorridas em países do Oriente Médio e no Norte da África, no final de 2010. Essa revolução é considerada a primeira grande onda de protestos democráticos do mundo árabe no século XXI. Os países que promoveram as manifestações vieram de nacionalismos árabes entre as décadas de 1950 e 1970, e se converteram aos poucos em governos repressores que impediam a oposição política, gerando um vazio que foi preenchido por movimentos islamistas de diversas índoles (GARTNER, 2013). Habitantes de países como o Egito foram às ruas para protestar contra governos repressivos e reivindicar melhores condições de vida (LUZ, 2018). O que permitiu a criação de mudanças organizacionais nessas regiões, como questões políticas internas, diplomacia e estratégias para com o Sistema Internacional (LEGRENZI e CALCULLI, 2013).

Além disso, um dos mecanismos que foi suporte para o sucesso da Primavera foram  os meios de comunicação, principalmente a internet, o que ganhou muito destaque nas coberturas e análises realizadas ao longo do processo revolucionário. Tal mecanismo foi mais agudo, principalmente quando alguns governos, como o Egito, tentaram suspender o acesso à internet em nível nacional, no intento de subtrair dos manifestantes a capacidade de coordenação dos movimentos (RAMOS, 2015). Não obstante, antes das manifestações, a mídia foi uma ferramenta fundamental para demonstrar a caótica situação no Egito. Causas de ordem econômica e social, como a pobreza, a alta nos preços de alimentos, entre outras coisas (NAVARRETE, 2012). 

Ao que tudo indica, o fenômeno teve seu início na Tunísia (https://www.doisniveis.com/africa/norte-africano/tunisia-os-desdobramentos-da-revolucao-de-jasmim-e-a-luta-por-dias-melhores), mas o estopim ocorreu no Egito, no dia 11 de fevereiro de 2010. O Egito ainda copiou os levantes na Tunísia promovendo greves similares às adotadas pelo Union Générale du Travail Tunisien, a divulgação de informação na internet foi ainda mais sofisticada que a observada na revolução tunisiana (LIMA, 2014). Assim, o presidente egípcio Hosni Mubarak foi obrigado a renunciar após quase 20 anos de autoritarismo em seu governo. Com a ausência de um símbolo presidencial, os poderes foram transferidos para a Suprema Corte das Forças Armadas até que novas eleições parlamentares fossem feitas em 2012 (LUZ, 2017). 

Não obstante, o Egito é o local de surgimento e afirmação da Irmandade Muçulmana na década de 1920. Considerado um grupo à margem da legalidade na maior parte de sua história, conquistou espaço na sociedade egípcia com uma proposta de islamismo político pacífico e expandiu-se para outros países a partir da década de 1960 (RAMOS, 2015),  os membros dessa categoria possuem uma ambiguidade em suas crenças e comportamentos, o que dificulta avaliar se eles estão ou não de fato preocupados com valores democráticos (LIMA, 2014). Assim, uma personalidade que ganhou a simpatia do público foi o islamita Mohammed Morsi, do Partido da Liberdade e da Justiça. Ele conseguiu se eleger presidente nas eleições de 2012 e revogou o decreto que limitava seus poderes como governante. No entanto, tal ato gerou mobilização da oposição, mas foi silenciada por Morsi, e no mesmo instante o novo presidente já começa a redigir uma nova constituição para o país, sendo ela islâmica (LUZ, 2017). Com isso, Rashid Khalid comenta que sobre a constituição do novo presidente no seguinte enunciado:

“O projeto observa que os “princípios da sharia” são a principal fonte da legislação, uma formulação muito consensual no Egito, que não faz dos preceitos da lei islâmica a única fonte de lei. Claro, o projeto de lei adicionou uma nova disposição segundo a qual os princípios da “sharia” devem ser interpretados de acordo com a doutrina sunita, uma cláusula criticada por igrejas cristãs e oponentes não islâmicos. O projeto de Carta Magna também atribui ao Estado um papel de “proteção da moralidade”, e proíbe “insultos ao povo” e “profetas”, disposições que segundo alguns abrirão as portas à censura (…) A oposição liberal e os Os leigos, assim como a Igreja copta, boicotaram o trabalho da comissão, acusando-a de dar prioridade às ideias dos islamitas (…) “Está havendo um golpe contra a democracia”. “A legitimidade do regime está se desgastando rapidamente”. (KHALID, 2011). (Tradução própria)

Ainda que Morsi quisesse continuar com um governo repressivo, como seu antecessor, milhares de cidadãos egípcios foram às ruas protestar e ele foi tirado do poder por militares em 2013. Cansados dos abusos do então presidente, o público que mais teve participação nas manifestações foram os jovens, pois conquistaram uma confiança e uma segurança que tem ultrapassado as fronteiras de seu país. Dito isso, essa troca de gerações da população permitiu que novas ideias e vontades viessem a tona, pois tinham vivido sob um regime autoritário e não conheceram uma época em que o governo não estivesse sob a direção de oficiais militares ou soberanos absolutos (NAVARRETE, 2012). 

Assim, com a saída de um mulçumano, forma-se um governo interino que se opunha ao Islamismo (LUZ, 2017). Após muitas reviravoltas no país, o Egito hoje é liderado pelo ex-comandante do exército Abdul Fatah Khalik Al-Sisi, supostamente responsável pelo golpe dado em Morsi. Ainda que o Egito tenha demonstrado sua força popular durante o fenômeno da Primavera Árabe, ainda está dividido hoje entre apoiadores do governo e oposição, além da permanência da instabilidade política e as diversas crises econômicas (LUZ, 2017).

Os acontecimentos no Egito, especialmente a destituição de dois presidentes em pouquíssimo tempo, por sua vez, impulsionaram os protestos em outros países ao redor, dada sua maior projeção geopolítica se comparada à Tunísia, ainda que tenha sido a pioneira no fenômeno. Nesse contexto, surge uma influência que encoraja novos movimentos em outros países, pois o desafio à autoridade, antes inviável, passa a parecer factível (RAMOS, 2015).

Portanto, levando essa questão de uma revolução egípcia, mas ainda a instabilidade política é algo dilemático que está tomando proporções preocupantes a outras regiões próximas. A necessidade de estabilidade egípcia é transcendental para a região do Oriente Médio, pois o poderio militar e as alianças estratégicas são parte da história egípcia, é por isso que sua histórica liderança se encontra em dúvida (NAVARRETE, 2012). Mas ainda deixa esperança por dias melhores.

Referências

CAMPOS, Cecília Marchi Beltrão. A PRIMAVERA ÁRABE NO EGITO: PERCEPÇÕES DE IDENTIDADE EM TRANSFORMAÇÃO. Florianópolis. UFSC. 2014. 

GARTNER, Heitor. Egito e Síria: o papel das tecnologias digitais na Primavera Árabe. PUC-SP. São Paulo. 2012. Disponível em: http://blog.pucsp.br/culturadigitalri/?tag=egito. Acesso em: 05 agosto 2021.

LEGRENZI, Matteo; CALCULLI, Marina. Middle East Security: Continuity amid Change. In: FAWCETT, L. International Relations of the Middle East. Oxford: Oxford University Press, 2013. Cap. 10.

LUZ, Camila. Primavera Árabe: o que aconteceu no Oriente Médio?. 2017. Disponível em: <https://www.politize.com.br/primavera-arabe/>. Acesso em: 05 agosto 2021.

LIMA, Tiago Levi Diniz. O PROCESSO DE TRANSIÇÃO DE REGIME NO EGITO E NA TUNÍSIA. UFPE. Recife. 2014.

NAVARRETE, Juan Alexis Acevedo. UMA FLOR NO DESERTO: A PRIMAVERA ÁRABE NO EGITO (2011-2012). Revista Vernáculo, nº 30, 2º sem/2012.

RAMOS, Luis Felipe Gondim. Origens da Primavera Árabe: Uma proposta de classificação analítica. Universidade Federal de Brasília. Brasília. 2015. 

Imagem

Disponível em: https://aulazen.com/historia/primavera-arabe-origem-fatos-e-consequencias-resumo/. Acesso em: 08 agosto 2021.

Djamilly Rodrigues

Graduanda em Relações Internacionais e Diretora de Conteúdo do Dois Níveis.

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