Bibliotecas Públicas na China

Bibliotecas Públicas na China

Cooperação e Desenvolvimento

A República Popular da China conta com uma longa história no tocante a acervos e bibliotecas públicas, característica de sua milenar história. Um breve olhar para a história da civilização chinesa permite a localização de acervos de bibliotecas desde a Dinastia Han (206 A.C -220 D.C). Infelizmente, a percepção da necessidade da popularização de bibliotecas só começou a ser sentida após as guerras do ópio e seguintes tratados desiguais, com a realização do pouco conhecimento que era difundido popularmente sobre as civilizações ocidentais. Movimentos sociais, como o Movimento Estudantil do Quatro de maio sobre a Questão Shandong, impulsionaram fortemente o interesse popular pelos estudos e, consequentemente, pelo acesso ao sistema de bibliotecas públicas durante o incipiente século das humilhações. 

Bibliotecas no começo de século XX na China foram altamente influenciadas pelo intercâmbio de bibliotecários chineses e americanos, onde estes compartilharem seus sistemas de organização de livros (que facilitam a busca e otimizam a pesquisa nesses ambientes). Vale ressaltar a figura de Mary Elizabeth Wood e seus trabalhos em estabelecer, no começo do século XX, bibliotecas novas em províncias interioranas e financiar outros tantos projetos no território. Mesmo após as invasões japonesas ao território, as milhares de obras presentes em acervos públicos foram preservadas (como o acervo da biblioteca de Shanghai, o segundo maior do país).

Desde então, ocorreram diversas mudanças na dinâmica interna do país. Passaram a Segunda Grande Guerra, a Revolução da Grande Marcha, as campanhas anti-direitistas e a Revolução Cultural, todas elas com mudanças na dinâmica administrativa do país e, por consequência, da preservação e organização de acervos bibliográficos. Entretanto, ao contrário do que costuma ser dito em mainstream, as bibliotecas expropriadas após a vitória comunista e posterior expurgo de estrangeiros de Shanghai em 1952 foram muito bem preservadas. Estas bibliotecas, hoje, possuem acesso livre ao público, e são mantidas pelo grande estado chinês.

Estado este que, em meio a campanhas de desenvolvimento e modernização nacional (as quatro modernizações de Deng Xiaoping), se mostra um expoente em preservação do patrimônio histórico e arquitetônico. A estrutura do antigo North China Branch of the Royal Asian Society e da Zikawei Bibliotheca Major (duas bibliotecas históricas construídas por imigrantes estrangeiros no século XIX em Shanghai) se encontram não só reformadas e modernizadas, como funcionais, abrigando mais de 200 mil títulos cada. Um exemplo de manutenção do patrimônio arquitetônico nacional e incentivo à leitura e respeito a tradição histórica nacional. Em mesma sintonia andam as bibliotecas de Biblioteca de Zhenjiang, Nigbo e Shaoxing: modernizadas, recebendo investimentos e digitalizando seus acervos para livre acesso pelo meio virtual.

Iniciativas como essa, entretanto, sofrem algumas dificuldades de execução. O programa de bibliotecas sindicais – funcional desde antes da ascensão de Mao e que já chegaram a mais de 200 mil unidades em seu ápice – hoje conta com pouco mais que 90 mil e diversos desafios no tocante a administração, financiamento, mão de obra e popularidade. 

Visando uma resolução, a maior parte da literatura especializada pede mudanças nos sistemas de bibliotecas sindicais, por reformas administrativas em regulamentação (a lei de regulamentação da ACFTU – All Chinas Federation of Trade Unions, órgão de regulamentação sindical – data de 1955), investimento, capacitação de pessoal e de cooperação entre bibliotecas. Alguns desses requerimentos citam o pensamento em fomentar o empreendedorismo na lógica das bibliotecas, que hoje são reféns do investimento de seus respectivos sindicatos e o planejamento financeiro destes, ao quais nem sempre as levam em consideração. 

REFERÊNCIAS

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Paulo Otávio Soares

Estudante na Universidade Federal de Goiás, entusiasta por desenvolvimento e cooperação internacional. Maranhense exilado na terra do pequi.

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