CAZAQUISTÃO E SUA ASCENSÃO NO PÓS-GUERRA FRIA

CAZAQUISTÃO E SUA ASCENSÃO NO PÓS-GUERRA FRIA

Não se ouve falar com frequência a respeito do Cazaquistão e de suas contribuições para o Sistema Internacional (SI) ou alguma notícia interna do próprio país. No entanto, é uma região rica em história e em recursos naturais. Nesse texto, gostaria de apresentar para vocês, caros leitores, a beleza e a história desse país, em que a população além de ser simpática e diversa, luta para a paz de uma cultura diversificada dentro de seu território, um povo sofrido ao longo dos anos, mas que sempre focou na reestruturação de sua sociedade.

A nação, vizinha da Rússia, é habitada por uma maioria étnica descendente de turcos nômades que passaram por ali a partir do século 8. A região já foi invadida por persas e árabes, e, mais tarde, no século 13, por Gêngis Khan (primeiro grão-cã e o fundador do Império Mongol). No século 15, os cazaques e povos vizinhos formaram três governos, cada um responsável por uma região. A Grande, a Média e a Pequena Horda eram formadas por clãs, cujo líder tinha o título mongol Khan. Já no século 17, as hordas perderam a autonomia e começaram a sofrer invasões, por isso, os cazaques pediram proteção ao Império Russo. Ademais, a proteção se converteu em domínio e, no século 20, a ocupação foi oficializada (SOMMA, 2017). Após a Revolução Bolchevique, em 1917, o Cazaquistão foi anexado à Rússia. Nesse período, a fome que se seguiu matou pelo menos 1 milhão de cazaques. Durante o governo stalinista, mais fome, massacres e deportações para o país. Nesse contexto, em 1991, com o esfacelamento da União Soviética, o país se tornou independente. Hoje, a riqueza do petróleo transforma seu horizonte semi-árido. E na capital, Astana, por exemplo, há cada vez mais hotéis – que já abrigam os fãs de Borat (SOMMA, 2017) (famoso filme que conta a história de um jornalista cazaque). 

Dessa maneira, capital do país desde o fim de 1997, Astana, localizada na estepe árida, é a Brasília do Cazaquistão. Uma Brasília mais, digamos, extravagante. Bem ao gosto do presidente ditador Nursultan Nazarbayev, um burocrata da era soviética que governava o país com mão de ferro. Construída com o dinheiro do petróleo – um terço do Produto Interno Bruto (PIB) do país, de 56 bilhões de dólares, vem de sua exportação –, a capital já custou até agora 7 bilhões para os cofres públicos (SOMMA, 2017). Até 1997, a capital cazaque era Almaty. Oficialmente, a mudança para Astana tem duas razões: 1) Almaty está localizada em uma região vulnerável a terremotos; 2) com Astana, há a possibilidade de fortalecer a unidade nacional, integrando politicamente a região nordeste, povoada, em grande parte, por descendentes de imigrantes russos. No entanto, a versão de que a mudança atende a um capricho do presidente é a mais verossímil para a opinião pública. Hoje, cerca de 600 mil pessoas moram na atual capital – que, no inverno, registra temperaturas de 40 graus negativos. “O arquiteto-chefe (de Astana) é o presidente em pessoa”, disse em uma entrevista o porta-voz do Ministério do Exterior, Yerzhan Shayk Bayev. Essa pode ser a explicação para o gosto um tanto estranho do Palácio da Paz e do Acordo, edifício inaugurado no fim do ano passado.  Ele tem o formato de uma pirâmide, com 25 andares. Abriga, entre outras coisas, uma sala de ópera para 1500 pessoas e uma universidade. Calcula-se que vários outros bilhões de dólares serão empregadas na capital cazaque. Entre os projetos de Nazarbayev está a construção de uma área de 28.500 metros quadrados inspirada nos Jardins Suspensos da Babilônia (SOMMA, 2017). A seguir temos a imagem da capital, uma verdadeira maravilha, com estruturas espalhafatosas e que nos agrada o olhar:

Fonte: LIECHAVICIUS, 2020

Nesse contexto, em 1º de maio de 2021, o Cazaquistão celebrou o Dia da Unidade do Povo do Cazaquistão. A coexistência pacífica de cidadãos que representam mais de 130 nacionalidades é uma das principais conquistas do país (MELLO, 2021). Após o colapso do estado soviético e a conquista da independência sob a liderança do Primeiro Presidente do Cazaquistão – Elbasy Nursultan Nazarbayev, o Cazaquistão conseguiu lidar com todas as consequências do período de incerteza e obter grande sucesso em várias áreas, incluindo a mobilização de grupos étnicos em um único povo do Cazaquistão. A sábia decisão de Nursultan Nazarbayev, tomada em março de 1995, de criar a Assembleia do Povo do Cazaquistão, que não apenas une todos os grupos étnicos no contexto de eventos comuns, mas também desempenha um papel importante na vida política do país, contribuiu para a construção de uma atmosfera tão amigável. Em particular, a Assembleia tem o estatuto de órgão constitucional com influência social e política e está representada no Parlamento do país, onde os seus representantes cobrem com a sua atenção uma variedade de problemas do Estado e apresentam projetos de lei que visam a melhoria da qualidade de vida da população. O principal objetivo da Assembleia é a implementação da política nacional, garantindo a estabilidade social e política no Cazaquistão e aumentando a eficácia da cooperação entre as instituições estatais e a sociedade civil no campo das relações interétnicas (MELLO, 2021)

Em 2020, a Assembleia comemorou seu 25º aniversário. Durante este período, muito trabalho foi feito pela Assembleia e pelo Governo do país. Hoje, 17 confissões estão representadas no Cazaquistão, existem 3800 associações religiosas, e mais de 1000 associações etnoculturais operam, das quais, 29 são estatais. Sob os auspícios da Assembleia, existem 40 casas de amizade (centros multifuncionais), 2737 Conselhos de Acordo Público e 1847 Conselhos de Mães, que trabalham com a população das regiões para resolver seus problemas e prevenir qualquer conflito. 52 meios de comunicação de associações etnoculturais estão registrados no Cazaquistão, existe um clube republicano de jornalistas da Assembleia e 15 regionais. Para apoio científico e analítico às atividades deste órgão, foi criado um conselho científico e de peritagem, composto por 52 cientistas. Grupos de especialistas científicos, que incluem 262 cientistas, operam com base em universidades regionais em todas as regiões. Uma das direções dos trabalhos da Assembleia é promover o desenvolvimento da instituição da mediação no campo da harmonia social e da unidade nacional. A rede de mediação da Assembleia inclui 1 Conselho republicano, bem como 17 gabinetes de mediação em casas de amizade, que organizaram o trabalho de 342 plataformas de diálogo. No mais, 1.692 mediadores estão inscritos e trabalham na Assembléia (MELLO, 2021).

A Assembleia promove o desenvolvimento da caridade no país, fornece coordenação e outros apoios. No primeiro trimestre de 2021, mais de 187 milhões de tenge (moeda cazaque), foram arrecadados em eventos de caridade e assistência prestada, (colocar de forma geral o que foi arrecadado, ex: produtos; mantimentos) a 4.715 famílias e mais de 22.000 cidadãos em situação de vulnerabilidade social (MELLO, 2021). A Assembleia contribuiu para o renascimento, preservação e desenvolvimento da cultura, línguas e tradições de diferentes nacionalidades do Cazaquistão, para a criação de um modelo único de harmonia interétnica e interreligiosa com uma atmosfera de confiança, solidariedade e compreensão mútua, em que  cada cidadão , independentemente de sua nacionalidade ou religião, goza de todos os direitos civis e liberdades garantidos pela Constituição da República do Cazaquistão. A confirmação da autoridade e importância acrescidas da Assembleia é o fato de 9 deputados dos Mazhilis do Parlamento da República do Cazaquistão (a câmara baixa do corpo legislativo) serem agora eleitos por esta organização. A Assembleia é o resultado de uma inovação sócio-política única no Cazaquistão e uma ferramenta eficaz para unir a sociedade. Hoje, a Assembleia dedica grande atenção ao desenvolvimento e fortalecimento do papel da língua cazaque no país, como fator unificador e formando um pedido especial de atualização da política no domínio das relações interétnicas (MELLO, 2021).

No âmbito da XXIX sessão da Assembleia, realizada a 28 de abril deste ano, Nursultan Nazarbayev anunciou a sua renúncia ao cargo de presidente da Assembleia do Povo do Cazaquistão e a transferência dos seus poderes para o Presidente do país Kassym- Jomart Tokayev. A tendência da etnopolítica moderna, proclamada pelo atual chefe de Estado – “A unidade da nação – na sua diversidade”, baseada na continuidade do curso de Elbasy, vai garantir ainda mais a estabilidade e consolidação da sociedade, regular os processos interétnicos no base de um diálogo construtivo. Por proposta geral dos membros da Assembleia, Nursultan Nazarbayev tornou-se o Presidente Honorário deste órgão (MELLO, 2021).

A Assembleia atualmente serve como um elo único entre a sociedade civil e o estado. É uma instituição de um novo tipo de representação popular. Com o seu surgimento, marcou a criação de um instrumento de fortalecimento da democracia, concretizando o conceito de “Soberania Popular”. A Assembleia tornou-se uma confirmação convincente da eficácia do modelo cazaque de tolerância, paz e harmonia social (MELLO, 2021).

Não obstante, o país começou a ganhar fama quando Sacha Baron Cohen (um ator britânico) encarnou o personagem principal do filme Borat: o Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América. Antes, o Cazaquistão era apenas uma ex-república soviética esquecida no SI, Com o sucesso mundial do longa, o nono maior país do mundo (pouco povoado, com 15 milhões de habitantes) ganhou fama. E virou um dos destinos turísticos que mais crescem (SOMMA, 2017). 

No lançamento do primeiro longa de Borat em 2006, o governo do Cazaquistão chegou a banir o filme por divulgar uma imagem “ruim” do país. Contudo, ao longo dos anos, entendeu-se que a produção cômica foi boa para a nação da Ásia Central – e diversas figuras consideraram que a produção “colocou o país no mapa”. Diante da popularidade de Borat, o Cazaquistão usou o bordão “Very Nice” do personagem para promover o turismo do país. Assim, foram filmados quatro pequenos vídeos destacando a cultura e os destinos da nação, cada um acompanhado pelo conhecido “Very Nice” de Borat. O astro do filme, Sacha Baron Cohen, falou sobre o Cazaquistão que isso é uma comédia, o Cazaquistão do filme não tem nada a ver com o do mundo real. Ele comenta ter escolhido o Cazaquistão porque era um lugar que quase ninguém nos Estados Unidos conhecia, e foi o que permitiu criar um mundo selvagem, cômico e falso. O Cazaquistão real é um belo país com uma sociedade orgulhosa e moderna — o oposto da versão de Borat (RS, 2020). A imagem abaixo é a capa do filme criado pelos americanos representando o país de forma cômica:

Fonte: MACHOZEQUI, 2020

Portanto, a partir das informações dadas podemos perceber o quanto o Cazaquistão é cheio de histórias, lutas e vitórias como um só povo que almeja um futuro melhor. Sua cultura e diversidade proporcionaram a criação de um filme, e a cada dia o país se torna mais conhecido e popular no âmbito internacional para turismo.

REFERÊNCIAS

MELLO, Ueliton. 2021. O Cazaquistão celebrou em 1º de maio, o Dia da Unidade do Povo do Cazaquistão. Disponível em: https://www.pelomundodf.com.br/noticia/48411/cazaquistao-celebrou-em-1o-de-maio-o-dia-da-unidade-do-povo-do-cazaquistao. Acesso em: 13 maio 2021.

LIECHAVICIUS, Claudia. 2020. ASTANA, A NOVA CAPITAL DO CAZAQUISTÃO. Disponível em: https://www.viajarpelomundo.com/2015/09/astana-nova-capital-do-cazaquistao.html. Acesso em: 18 maio 2021

SOMMA, Isabelle. 2017. Borat: O verdadeiro Cazaquistão. Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/borat-o-verdadeiro-cazaquistao/. Acesso em: 13 maio 2021.

MACHOZEQUI, Juliana. 2020. Ficha técnica Borat (2006). Disponível em: https://entreterse.com.br/ficha-tecnica-borat-2006-73107/. Acesso em: 19 maio 2021

RS. 2020. Cazaquistão passa a usar frase de Borat para promover turismo no país. Disponível em: https://rollingstone.uol.com.br/noticia/cazaquistao-passa-usar-frase-de-borat-para-promover-turismo-no-pais/. Acesso em: 13 maio 2021.

Djamilly Rodrigues

Graduanda em Relações Internacionais e Diretora de Conteúdo do Dois Níveis.

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