COMO ESTÃO AS MULHERES NA PANDEMIA?

COMO ESTÃO AS MULHERES NA PANDEMIA?

O primeiro caso de Covid-19 foi identificado em Wuhan, na China, em dezembro de 2019. Em março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou, resultante da disseminação do vírus pelo mundo, uma pandemia mundial.

Diante deste cenário, toda a comunidade internacional está sendo impactada pela pandemia, entretanto, segundo a organização Think Olga e Think Eva (2020d):

[…] mesmo em meio ao desconhecimento do que está por vir, uma coisa já está clara: o abalo sentido pelos grupos mais vulneráveis, especialmente as mulheres, será maior, mais profundo, mais complexo e certamente mais duradouro.

Nessa circunstância, percebe-se que, embora a crise sanitária causada pelo coronavírus afete toda a população, meninas e mulheres estão recebendo esse impacto de uma forma diferente. Como Simone de Beauvoir deixou bem claro: basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados (THINK OLGA, THINK EVA, 2020d).

Ademais, quando pensamos nas pessoas mais atingidas pela pandemia, incluímos nesse grupo mulheres de baixa renda, negras, mães solo, trabalhadoras domésticas, enfermeiras que estão na linha de frente do combate ao coronavírus e no cuidado com os outros (THINK OLGA, THINK EVA, 2020d).

Visto isso, vamos debater sobre as principais áreas em que as mulheres estão sendo impactadas pela pandemia: economia e trabalho, saúde, violência e migração.

Economia e Trabalho

O Brasil é o oitavo país mais desigual do mundo, conforme ARRELLAGA e MONTEIRO (2021) e, os impactos da pandemia na vida das mulheres foram profundos:

quase 8,5 milhões de mulheres saíram do mercado de trabalho no terceiro trimestre, e sua participação caiu a 45,8%, o nível mais baixo em três décadas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (ARRELLAGA; MONTEIRO, 2021).

Dentro do grupo de mulheres, as mães solo, que são mais de 11,5 milhões no Brasil, tiveram que enfrentar dificuldades financeiras superiores e um excesso de mal-estar mental em razão do acúmulo de tarefas por causa do encerramento de atividades nas creches e escolas (ARRELLAGA; MONTEIRO, 2021).

O valor do auxílio emergencial, de 600 reais — aprovado em 2020 pelo Governo Federal — para mães solteiras era dobrado, porém, milhares de mulheres não conseguiram aprovação para receber o auxílio. Neste ano de 2021, o Congresso aprovou novos pagamentos, entretanto, de forma reduzida, os quais serão de 150 a 375 reais por mês (ARRELLAGA; MONTEIRO, 2021).

Porquanto, as mulheres encontram dificuldades em manter seus meios de subsistência durante a pandemia, isso porque, conforme a ONU Mulheres (2020, p. 01):

A experiência demonstrou que as quarentenas reduzem consideravelmente as atividades econômicas e de subsistência e afetam setores altamente geradores de empregos para as mulheres, como comércio ou turismo.

Além das mulheres serem um grupo vulnerável, devido a herança colonial e racista do Brasil — que se reflete no trabalho e na economia — há uma disparidade de raça. Dessa forma, as mulheres negras enfrentam uma “realidade de enorme vulnerabilidade econômica, além de toda a vulnerabilidade de segurança que encontram” (THINK OLGA, THINK EVA, 2020b).

Outrossim, o país também carece de empatia e as mulheres são as que mais sofrem. O relato de uma empregada doméstica:

Ela [a empregadora] disse que eu tenho o livre arbítrio para vir ou não, e que se eu quisesse ir de carro poderia deixar na sua garagem. Ela me deixou à vontade, mas se eu não vou, não recebo. […] Em outro lugar que eu trabalho, nas segundas e sextas, falaram que vão me dispensar. Mas disseram que não tinham como me pagar (THINK OLGA, THINK EVA, 2020b).

Saúde

Em virtude da crise atual, a acessibilidade aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, como cuidados de saúde pré e pós-natal e contraceptivos, fica prejudicada devido aos esforços que se voltam para o combate da pandemia (ONU MULHERES, 2020).

Além do mais, no Brasil, 70% dos profissionais de saúde são mulheres, assim como 84,7% dos auxiliares e técnicos de enfermagem (THINK OLGA, THINK EVA, 2020c).

E, as mulheres trans são outro grupo vulnerável, pois a média de vida delas na América Latina é de 35 anos. A crise sanitária atual as coloca em risco pois elas não possuem acesso a direitos básicos como saúde e moradia (THINK OLGA, THINK EVA, 2020c).

Violência

Os casos de violência doméstica, cometida contra as mulheres, cresceram durante o período de isolamento social no mundo todo. Crianças e adolescentes também se encontram em maior risco de serem vítimas de abuso sexual e estupro de seus próprios familiares ou de pessoas próximas com quem possuem algum vínculo afetivo (THINK OLGA, THINK EVA, 2020a).

Destaca-se que:

Segundo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de Igualdade de Gênero a serem alcançados até 2030, os países devem trabalhar para eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, incluindo o tráfico e exploração sexual e de outros tipos (THINK OLGA, THINK EVA, 2020a).

Em adição a isso, as mulheres que conseguem sobreviver a violência doméstica enfrentam alguns obstáculos durante esse período de isolamento social, sendo estes:

Deixar seus lares após a violência; encontrar espaços públicos e capacitados para acolhimento; buscar residência em casas de vizinhos, amigos e familiares; acessar ordens de proteção que salvam e/ou serviços essenciais, devido a fatores como restrições ao movimento em quarentena e diminuição do atendimento na rede de serviços (delegacias, hospitais, Ministério Público, CRAS/CREAS) (THINK OLGA, THINK EVA, 2020a).

Além disso, o impacto econômico da pandemia na vida das mulheres pode dificultar as condições para que saiam de um relacionamento violento. Elas também ficam mais expostas “à exploração sexual com fins comerciais” (ONU MULHERES, 2020, p. 02).

Migração

Olhando para o cenário internacional, a crise sanitária atual gera riscos para a migração irregular de meninas e mulheres, visto que elas ficam mais vulneráveis a violência de gênero e ao tráfico. De acordo com a ONU Mulheres (2020, p. 01): “esses riscos podem ser aumentados devido a restrições de viagens internas e externas, dificuldades no acesso a serviços de saúde e medicamentos, além da falta de documentação”.

Conclusão

É necessário que as mulheres sejam envolvidas nas tomadas de decisões e em todas as fases de respostas ao combate da pandemia. Isso em razão de que, por serem um grupo vulnerável, é importante que elas tenham esse espaço para poderem falar e serem ouvidas. E, a partir disso, as decisões tomadas devem levar em consideração a situação das mulheres mais impactadas pela pandemia. Conforme a ONU Mulheres (2020, p. 02), nesse grupo devem ser incluídas:

mulheres que estão recebendo o maior impacto das crises, como as trabalhadoras do setor de saúde, domésticas e trabalhadoras do setor informal, assim como as migrantes e refugiadas.

Portanto, meninas e mulheres estão sofrendo os efeitos da pandemia de forma acentuada. Logo, é indispensável que a comunidade internacional olhe para essa situação reconhecendo que garantir proteção e apoio para elas, durante essa crise, é proteger um futuro mais sustentável para o planeta.

Por fim, encerro essa coluna com essas palavras da Phumzile Mlambo-Ngcuka, Diretora Executiva da ONU Mulheres:

Há espaço não apenas para resistência, mas recuperação e crescimento. Peço aos governos e a todos os outros prestadores e prestadoras de serviços, incluindo o setor privado, que aproveitem a oportunidade para planejar sua resposta à COVID-19 como nunca fizeram antes – e que levem em consideração a perspectiva de gênero, construindo proativamente conhecimentos de gênero em equipes de resposta (THINK OLGA, THINK EVA, 2020d)

REFERÊNCIAS:

ARRELLAGA, María Magdalena; MONTEIRO, Patricia. Os estragos invisíveis da pandemia para as mães solo. 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2021-03-17/os-estragos-invisiveis-da-pandemia-para-as-maes-solo.html. Acesso em: 10 jun. 2021.

ONU MULHERES. Gênero e COVID-19 na América Latina e no Caribe: dimensões de gênero na resposta. 2020.Disponível em: https://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2020/03/ONU-MULHERES-COVID19_LAC.pdf. Acesso: 08 jun. 2021. 

THINK OLGA, THINK EVA. Eixo 1: violência contra a mulher. 2020a.Disponível em: https://thinkolga.squarespace.com/violencia-contra-mulheres. Acesso em: 09 jun. 2021.

THINK OLGA, THINK EVA. Eixo 2: economia e trabalho. 2020b. Disponível em: https://thinkolga.squarespace.com/economia-trabalho. Acesso em: 10 jun. 2021.

THINK OLGA, THINK EVA. Eixo 3: mulher e saúde. 2020c. Disponível em: https://thinkolga.squarespace.com/mulher-saude. Acesso em: 08 jun. 2021.

THINK OLGA, THINK EVA. Mulheres em tempos de pandemia: os agravantes de desigualdades, os catalisadores de mudanças. 2020d. Disponível em: https://thinkolga.squarespace.com/. Acesso: 09 jun. 2021.

Thaynara dos Santos

Formada em Relações Internacionais pela Universidade Católica de Brasília. Apaixonada pela área de Direitos Humanos das mulheres.

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