INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: COMO AS IAS PODEM INFLUENCIAR AS ELEIÇÕES DE 2024
INTRODUÇÃO
Desde o lançamento do ChatGPT da empresa OpenAI em 2019, muito se fala sobre a evolução da tecnologia, especialmente no que diz respeito à inteligência artificial. No entanto, essa tecnologia não é tão nova quanto parece. A evolução desse tipo de tecnologia vem afetando várias áreas do cotidiano da população mundial e no começo desse ano (2024) com as primárias nos Estados Unidos passou a ter outro foco: a utilização das IAs para tentar influenciar o resultado das eleições.
De acordo com Russel e Norving (2022), afirmam que ao longo da história da IA, pesquisadores buscaram diferentes versões da mesma. Alguns desses pesquisadores definiram a inteligência artificial em termos de fidelidade à performance humana e outros, de forma abstrata de racionalidade. Assim, os autores (2022) apontam que pesquisadores consideram a inteligência uma “propriedade dos processos de pensamento” (Russel e Norving, pág. 1, 2022, tradução nossa) enquanto outros focam em inteligência comportamental, ou uma caracterização externa.
UM POUCO SOBRE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
É importante notar que a utilização dessas bases anteriormente citadas vem do objetivo de entender a racionalidade, pensamento, como o cérebro processa informação, como a linguagem se conecta com o pensamento. Além disso de conseguir criar regras para gerar conclusões válidas, como computacionar essas informações, como tomar decisões de acordo com nossas preferências, especialmente as que se referem ao futuro, como construir um computador eficiente e como esses computadores podem operar sobre seu próprio controle. São informações que são essenciais para compreender o que é uma inteligência artificial e sua complexidade.
De 1943 até hoje, a Inteligência Artificial passa por mudanças que afetam nossos dias. O primeiro trabalho reconhecido pela academia como IA foi em 1943 criado por Warren McCulloch e Walter Pitts. De acordo com Russel e Norving (2022), eles mostraram qual função computável pode ser computada por simples conexões neurais, e toda lógica pode ser implementada por uma simples ‘network’ estruturada. Assim, em 1950, foi criado por Marvin Minsky e Dean Edmonds o primeiro computador de redes neurais (Russel e Norving, 2022).
A partir desse momento, a Inteligência Artificial passou a ter visibilidade em outras perspectivas, sendo elas: voltando-se para o raciocínio lógico e atividades físicas (qualidade visual), para imitar o protocolo de resolução de problemas humanos, para jogos, como o exemplo do Alpha Go. Entre 1966 e 1973, foi um período em que as empresas começaram a enxergar as IAs como comerciável, no entanto também foi um período o qual houve uma pausa no desenvolvimento de pesquisa, já que não se conseguia avançar para problemas mais complexos (Russel e Norving, 2022).
Por volta dos anos 80 e 90, foi possível inserir uma lógica mais matemática, incorporando uma abordagem probabilística, o que levou a criação do que conhecemos como Machine Learning. Dentro dos anos 2001 até hoje Big Data, houve o desenvolvimento de algoritmos de aprendizagem para tirar vantagens sobre grandes quantidades de dados. Após duas décadas, a Inteligência Artificial passou a ser comerciável, já que nesse momento, começaram a ser mais comuns as redes sociais. E de 2011 até hoje, o Deep Learning tornou-se mais utilizado já que é uma modalidade mais moderna na qual utiliza várias camadas de elementos de computação simples e ajustáveis, assim como houve o primeiro reconhecimento da fala e reconhecimento visual de objetos (Russel e Norving, 2022).
Existe um futuro cheio de aplicações para IA, incluindo: diagnósticos de saúde, carros que dirigem sozinhos e assistência à saúde para idosos. Segundo Russel e Norving (2022), a sociedade está em um momento crucial em como utilizar as vantagens das tecnologias que tem como base a inteligência artificial, em vez de comprometer os valores democráticos, como liberdade, igualdade e transparência (STONE et al., 2016; GROSZ AND STONE, 2018 apud Russel e Norving, 2022).
Como toda nova tecnologia, as tecnologias que tem como base as IAs tem seus benefícios e seus riscos. Entre os benefícios estão: veículos robóticos, robôs quadrúpedes, automação em planejamento e calendários, máquina de tradução, reconhecimento de voz e recomendações. Porém, também tem seus riscos, como por exemplo: armas letais autônomas, vigilância e persuasão, decisões tomadas tendenciosas, desemprego, cibersegurança, entre outros.
NOVOS IMPACTOS
Um dos riscos que encontra-se em destaque neste ano, é a utilização dessa ferramenta durante o período eleitoral. Segundo Américo Martins (2024), em artigo para a CNN, as autoridades estadunidenses estão investigando o primeiro caso de uso de inteligência artificial para tentar influenciar o resultado das eleições presidenciais dos Estados Unidos, com a utilização de deepface. Começou a circular um áudio do Presidente Biden, pedindo para que os votantes não participassem das eleições, o que gerou um alerta às autoridades brasileiras para as eleições municipais no Brasil em Outubro.
Diante dessa ameaça que se tornou real nos EUA, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) manifestou-se em Fevereiro de 2024 com uma regulamentação voltada para o uso das IAs na propaganda de partidos, coligações, federações partidárias, candidatos(as) nas eleições municipais de 2024. Com essa decisão, a Resolução nº 23.610/2019, tem dois artigos acrescentados os quais têm grande contribuição para coibir a desinformação e a propagação de notícias falsas. Em face disso, o Ministro Alexandre de Moraes, afirma que o TSE aprovou uma das normas mais modernas em relação à desinformação e as fake news.
Além disso, ao usufruir da inteligência artificial, os candidatos a partir dessa eleição deverão ter avisos explícitos em relação à utilização de IA, com penalidade de cassação do registro ou do mandato. Outro ponto que é necessário enfatizar, é que a resolução impõe uma série de obrigações aos provedores de internet e as plataformas digitais para combater a disseminação de fake news (TSE, 2024), especialmente no tocante a discurso de ódio.
CONCLUSÃO
É imperioso perceber que tecnologias como a inteligência artificial tem uma utilização ambígua, assim como pode ser utilizada para fins de engrandecimento da humanidade, pode ser utilizada para machucar. A tomada de decisão do TSE de antecipar preocupações em relação ao uso indiscriminado das tecnologias que têm base na inteligência artificial para que possamos ter eleições municipais e, posteriormente, presidenciais democráticas em 2024 e nos anos que hão de vir.
REFERÊNCIAS
MARTINS, Américo. Eleições nos EUA: uso de deepfake e IA revela problema que pode se repetir no Brasil. 23 de Janeiro de 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/eleicoes-nos-eua-uso-de-deepfake-e-ia-revela-problema-que-pode-se-repetir-no-brasil/#:~:text=As%20autoridades%20dos%20EUA%20est%C3%A3o,no%20Brasil%20nas%20disputas%20. Acesso: 6 de Julho de 2024.
ESTADÃO. TSE acata sugestão da CGU e faz alteração no código-fonte da urna eletrônica. Data de Publicação: 17 de junho de 2024. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2024/06/17/tse-acata-sugestao-da-cgu-e-faz-alteracao-no-codigo-fonte-da-urna-eletronica.htm. Acesso: 6 de julho de 2024.
NORVIG, Peter; RUSSEL, Stuart. Artificial Intelligence: A Modern Approach. Upper Saddle River, NJ. Editora: Pearson Education. 2022