Taxa de Câmbio: variável macroeconômica ou instrumento político?

Taxa de Câmbio: variável macroeconômica ou instrumento político?

História do Câmbio

A taxa de câmbio é o valor que uma moeda possui em relação à outra, isto é, representa a taxa especificada pela qual duas moedas diferentes podem ser trocadas (cambiadas). Essa variável macroeconômica vai muito além da expressão quantitativa de troca entre moedas, além de também ter grande importância na relação comercial entre os países.

Apesar de uma relação essencial, nem sempre foi assim. Por muitos séculos as moedas do mundo eram trocadas por ouro, ou seja, uma moeda emitida em papel por qualquer país representava uma quantia real de ouro. Na década de 1930, os Estados Unidos determinaram o valor do dólar em um único e invariável nível: aproximadamente 28 gramas de ouro valiam US$ 35. Após a Segunda Guerra Mundial, outros países também basearam o valor de suas moedas no dólar, o que era possível de ser feito porque como todos sabiam quanto de ouro valia um dólar, então o valor das outras moedas com relação ao dólar pôde ser baseado no seu valor em ouro (CANDIOTA, 2021).

Ainda que parecesse um sistema promissor, questões como a inflação fizeram com que o dólar sofresse, enquanto outras moedas passaram a ser mais valiosas e mais estáveis. Assim, o valor do dólar foi oficialmente reduzido, e, em 1971, os EUA acabaram com o padrão ouro, o que significou que o dólar não representava mais uma quantia real de ouro. Com isso, as forças do mercado sozinhas determinaram seu valor.

Política Cambial 

Ao longo do tempo, com a evolução do câmbio, a política cambial foi criada sendo um instrumento da política de relações comerciais e financeiras entre os países. Assim, os termos em que essa política se expressa refletem as relações políticas vigentes entre os países baseado no desenvolvimento econômico alcançado por eles.

Além disso, a política cambial pode utilizar diversos mecanismos para evitar a evasão de divisas e contribuir para o equilíbrio do balanço de pagamentos (ou seja, equilíbrio de todas as transações econômico-financeiras realizadas por um país com os demais países), como a fixação de taxas múltiplas de câmbio e medidas que favoreçam algum setor da economia, como, por exemplo, manter a moeda nacional artificialmente desvalorizada para estimular as exportações.

Câmbio no Brasil

No Brasil, a história da política cambial é iniciada com a criação do primeiro banco em 1808, o Banco do Brasil, com a chegada da família real. Essa história é dividida em três fases. Na primeira delas, o mundo caminhava com a lógica de se manter paridades fixas com relação ao ouro. Nesse momento, no Brasil, instaurou-se um grande debate entre os “papelistas”, que defendiam que os problemas cambiais se originaram no balanço de pagamento, e os “metalistas”, que defendiam que as razões para a moeda nacional fraca estavam no déficit fiscal e no excesso de emissões de moeda (FRANCO).

A segunda fase pode ser definida a partir do artificialismo cambial com o uso de diferentes instrumentos como: taxas oficiais fixas, monopólio cambial para o Banco do Brasil com “câmbio paralelo” tolerado, câmbios múltiplos, registros para entradas, impostos sobre operações de câmbio, indexação cambial, entre outros. Assim, foi uma fase da intervenção estatal no câmbio, além de ter sido um período com importante marco no processo de crescimento/desenvolvimento da economia brasileira, ainda fortemente impulsionada pelo café (FRANCO).

Nos anos 1970, inicia-se um período de conversibilidade entre as moedas, onde a livre flutuação cambial ganha espaço, sendo visível que essa realidade está presente até os dias atuais, com raras exceções. Em 1980 uma nova etapa da globalização econômica internacional é iniciada, o que acelera esse processo. Porém, vale ressaltar que, para o Brasil e grande parte dos países subdesenvolvidos, a entrada nesta fase se deu mais tarde, sendo preciso esperar passar a crise da dívida externa para se iniciar um processo de liberalização cambial, o qual continua ainda hoje.

Câmbio e Relações Internacionais

Uma das questões centrais que ocupou posição importante na investigação econômica durante o período de vigência de Bretton Woods de taxas de câmbio fixas mas ajustáveis, dizia respeito à possibilidade de se utilizar a desvalorização cambial para corrigir problemas no balanço de pagamentos, em particular na balança comercial (CARNEIRO,2014). A partir disso, o debate em torno dessas questões permeia até os dias atuais.

A Guerra Comercial entre China e Estados Unidos é como ficou conhecida a disputa econômica entre eles. Em 2017, a partir das tarifas colocadas nos produtos chineses pelo presidente norte-americano Donald Trump, o conflito se iniciou. A medida tinha como objetivo estimular a compra de produtos nacionais, o que aumentaria a criação de empregos. Desde então esse conflito preocupa economistas do mundo inteiro, além de terem sido feitas inúmeras tentativas de acordo, novas ameaças, negociações e tréguas.

Em agosto de 2019 houve uma piora momentânea na relação entre os países, chegando a impactar o campo cambial. Com uma nova rodada de tarifas americanas, a China desvalorizou fortemente o iuan, sua moeda, com o intuito de tornar os produtos chineses mais atrativos, se tornando um exemplo claro do uso da política cambial como instrumento de política comercial. Porém, houve grande impacto mundial na bolsa de valores, sendo os países asiáticos os mais afetados.

Considerações finais

Tendo em vista a economia mundial, todas as variáveis estão interligadas. Com isso, um impacto no setor alfandegário corresponde a um choque no mercado de ações. Quando a China desvalorizou sua moeda, bolsas de valores no mundo todo fecharam em forte queda, mostrando que guerras comerciais colocam os mercados internacionais sob grande pressão.

Assim, nota-se que a taxa de câmbio é definida a partir do regime cambial de cada país e está atrelada à oferta e à demanda de uma moeda estrangeira no país, mostrando a importância dela para as diversas transações comerciais de cada país. Também é importante ressaltar a relevância de decisões políticas, que fortalecem ou enfraquecem as moedas, podendo impactar o mundo inteiro.

Glossário

Artificialismo cambial: ausência de naturalidade do movimento cambial, uso de instrumentos cambiais.

Divisas: são moedas usadas em uma nação diferente da sua origem, ou seja, em outra divisa. 

Paridade fixa: é aquela em que o valor da moeda permanece inalterado ao longo do tempo, em relação a outra moeda referência.

Câmbio flutuante: é um sistema no qual a taxa de câmbio de uma determinada moeda é definida pela oferta e demanda de moeda estrangeira no mercado, sem intervenção do Banco Central.

Referências bibliográficas

Taxa de câmbio: como funciona e o que influencia? Expert XP. 2022. Disponível em: https://conteudos.xpi.com.br/aprenda-a-investir/relatorios/taxa-de-cambio/#:~:text=Muito%20al%C3%A9m%20de%20express%C3%A3o%20quantitativa,se%20est%C3%A1%20valorizada%20ou%20desvalorizada. Acesso em: 25 abr. 2023.

FRANCO, Gustavo. História do Câmbio. Conheça a história do câmbio no Brasil. Levycam. Disponível em: https://www.levycam.com.br/historia-do-cambio/. Acesso em: 26 abr. 2023.

Política cambial. Senado Federal. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/guia-de-economia/politica-cambial. Acesso em: 25 abr. 2023. 

CANDIOTA, Gustavo. Uma breve história das taxas de câmbio. Câmbio inteligente. 2021. Disponível em: https://www.gcprime.com.br/post/2016/04/25/uma-breve-hist%C3%B3ria-das-taxas-de-c%C3%A2mbio. Acesso em: 25 abr. 2023.

BRUM, A. L., ZILIO, M. Aspectos da evolução do câmbio no Brasil: 1990-2011. 2013. Disponível em: https://www.uricer.edu.br/site/pdfs/perspectiva/138_348.pdf

CARNEIRO, Flávio. A influência da taxa de câmbio sobre os fluxos de comércio exterior. Ipea. 2014. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3128/1/TD_1967.pdf

Redação Warren. Entenda a Guerra Comercial EUA x China: o Guia Completo. Warren Magazine. 2020. Disponível em: https://warren.com.br/magazine/guerra-comercial/. Acesso em: 27 abr. 2023. 

Imagem:  iSardinha, 2021.

Maya Fernandes Freitas

Nascida e criada em São Paulo e graduanda em Ciências Econômicas pela UFSCar. Tudo que envolve o entendimento de problemas sociais e como superá-los me interessa. Além disso, apaixonada por literatura e esportes.

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