Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom

Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom

Em 1991, a Ucrânia ressurge como um Estado soberano diante da extrema resistência russa que ansiava por uma União Soviética reestruturada. O Ato de Declaração da Independência da Ucrânia foi ratificado em 24 de agosto, sendo apoiado em 1 de dezembro por um referendo no qual a população ucraniana manifestou sua aprovação com 90% dos votos a favor. Entretanto, a influência russa no país continuou intrínseca nas estruturas políticas, sociais e culturais.

As relações russo-ucranianas são marcadas pelo legado do Império czarista e da antiga URSS, uma vez que mesmo após a declaração de sua independência, a Rússia posiciona a Ucrânia como parte de sua própria órbita estratégia, enquanto boa porcentagem da população ucraniana aspira por abjugar da hegemonia russa e desenvolver uma cooperação mais estreita com a União Europeia. (KAPPELER, 2014)

Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom (Inverno em chamas: a luta da Ucrânia por liberdade) é um documentário que retrata os protestos denominados de EuroMaidan, que se iniciaram em novembro de 2013 na Praça Maiden, em Kiev. De forma pacífica, milhares de pessoas exigiam que o presidente Viktor Yanukovych voltasse em sua decisão — de desistência em fortalecer laços com a Europa em detrimento das pressões russas — e assinasse um acordo de associação com a União Europeia. Após oito dias, os protestos tomaram outra direção, o de uma revolução. Corrupção, crise econômica, desigualdades sociais, traços de um governo totalitário e o desrespeito pelos direitos humanos, visto nos primeiros dias do movimento pacífico na Praça Maiden pelas forças especiais da polícia, o Berkut, desencadearam aos manifestantes a necessidade da derrubada do regime vigente.  

“Winter on Fire” é o retrato de uma Ucrânia em fogo, um cenário de zona de guerra. Nos primeiros dias de protesto, o Berkut tentou dispersar a multidão, sem sucesso, e usaram-se da violência por meio de balas de borrachas. Quando as manifestações tomaram caráter revolucionário, o documentário ilustra a nova realidade da Praça Maiden, imagens que causam angústia e consternação. A necessidade de transformação e a luta por esta é realizada em meio a sangue, destroços, barricadas e mortes. Nesse novo cenário, o filme acompanha os manifestantes ocupando o prédio da administração pública em Kiev, ato radical que mostrou a nova face da Maidan.

Um milhão de pessoas indignadas pela crueldade bárbara causada pela polícia especial ucraniana, cansadas da corrupção e da política direcionada à Rússia, exigem reformas governamentais e a renúncia de Yanukovych. Em uníssono, gritaram em meio a Praça Maiden: — Eles nos dão corrupção! Nós devolvemos revolução!

Em 22 de janeiro, ocorreram as primeiras mortes decorrentes da brutalidade policial, o que causou novas ondas de protestos e a erupção de ondas de violência pelos manifestantes. Ao longo do documentário é notório a mudança de conduta policial. Balas de borrachas foram substituídas por balas de material que causam maiores danos, até serem substituídas por munições letais. Os manifestantes incrédulos com tamanha violência e desrespeito aos direitos humanos, não abdicam de seus objetivos e encaram a morte como condição de ser e estar.

Além de seu papel explicitamente político, o Euromaidan tornou-se uma forma alternativa de expressar cidadania – baseada na ideia de que derrubar um regime destrutivo não é apenas algo que pode ser feito, mas algo que deve ser feito. A cidadania foi redefinida para ser mais ativa e envolvente.  (THE CONVERSATION, 2014)

As entrevistas realizadas com os manifestantes, demonstraram que eles não tinham a pretensão de cessar os protestos. Sabendo disso, o medo de serem atingidos por uma bala fatal não iria os impedir de protestar  por uma nova Ucrânia. Ou lutavam por sua liberdade e dignidade, ou a opressão transcenderia a seus filhos e netos. Ninguém estava protegido: mulheres, padres, crianças, médicos da Cruz Vermelha eram alvos das miras do Berkut. Em consequência, a morte de centenas de cidadãos tornou a revolução ucraniana ainda mais poderosa.

Uma das pessoas entrevistadas pelo documentário diz: Não consigo aceitar que depois de tantas guerras no mundo, que ainda resolvamos nossos problemas matando uns aos outros.  Durante 23 anos tivemos nossa independência apenas no papel, agora, porém, muitos se sacrificam para que ela se concretizasse 

Ukraine’s Euromaidan Revolution durou até 22 de fevereiro de 2014, quando Viktor Yanukovych fugiu do país. De acordo com o documentário, aproximadamente 125 pessoas foram mortas durante o levante popular, 65 continuam desaparecidas e 1890 foram feridas.  Um governo interino é formado, com novas eleições a serem realizadas em 25 de maio. As forças da Berkut foram dispensadas para sempre e o novo governo assinou o acordo com a EU. Os objetivos da revolução foram concretizados. Entretanto, o presidente Vladmir Putin ofereceu asilo político Yanukoveych;em sequência, a Rússia anexou a península da Crimeia no Mar Negro e forneceu apoio econômico, político e militar para separatistas pró-Rússia na região oriental de Donbass na Ucrânia. Com isso, um novo cenário se instituiu no território ucraniano, o de uma Guerra Civil.

Ana Clara Bueno

Estudante de Relações Internacionais pela UFG. Apaixonada por Direitos Humanos, Segurança internacional e Política Externa. Mescla todas suas paixões com produções cinematográficas. Futura ativista dos Direitos dos Animais.

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