Piñera: Os desafios econômicos do Chile

Piñera: Os desafios econômicos do Chile

Sebastián Piñera é um político de direita, que variou o discurso durante sua campanha, apoiando a política de centro-direita, mas acenando para a extrema direita, e assumiu a presidência em 2018, se mantendo no cargo até 2021. Piñera foi precedido por Michelle Bachelet, a qual assumiu a presidência pelo partido socialista do Chile duas vezes, sendo a última vez no mandato de 2014 a 2017. 

Sua inclinação neoliberal moldou sua política econômica. Ele assumiu o cargo prometendo promulgar reformas tributárias e trabalhistas favoráveis ​​aos negócios. O presidente defendeu um plano de recuperação econômica para o país, a simplificação da questão tributária sem mexer na carga dos impostos e reformas dos sistemas de saúde e de pensões. Um dos desafios do governo era lidar com a dívida, que havia se dobrado nos últimos dois governos. Além disso, a corrupção, mesmo não tão aguda quanto a de os outros países latino-americanos, também foi um dos problemas em que Piñera elaborou planos para combatê-la. A força militar e policial estavam ambas envolvidas em escândalos de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Também, o governo focou na reforma tributária e em remover a opção de tornar o investimento dedutível do imposto de renda, com o objetivo de trazer investimentos privados ao Chile e facilitar a criação de novas empresas no país.

Entretanto, o principal desafio do governo de Piñera foi a desigualdade social que, mesmo abaixo da média da América Latina, levou a intensos protestos liderados por estudantes, os quais se viam em um futuro com dívidas escolares acumuladas, salários baixos e incapazes de acessar as melhores universidades. O sistema de pensões e de saúde, ambos privados, também aumentaram as taxas de desigualdade social, levando às classes baixa e média a acumularem dívidas.

Em 2019, pela pressão dos intensos protestos populares contra o aumento das tarifas de metrô, o governo decidiu lançar um plano econômico de US$5,5 bilhões para enfrentar a crise social que o país estava sofrendo. Além disso, fora anunciado cortes dos preços de medicamentos para idosos, cancelamento do aumento do preço da eletricidade, aumento de 20% do subsídio governamental para a pensão e aumento do salário mínimo para US$ 440. Apesar disso, as medidas foram recebidas como insuficientes e tardias pela população afetada pela desigualdade. Piñera se viu obrigado a abandonar grande parte de sua agenda, tendo em vista os grandes protestos que causaram desordem social e grandes danos à propriedade pública e privada.

Em 2020, a crise sanitária global alcançou o Chile em março. O governo chileno resistiu em ordenar uma quarentena nacional e decidiu aplicar restrições moderadas, para evitar a paralização total da economia. Restrições mais rigorosas foram aplicadas mais tarde, pelo grande aumento de número de casos no país. Entretanto, o Chile foi um dos países que tiveram um dos mais rápidos programas de vacinação do mundo, usando principalmente a CoronaVac. Em outubro de 2021, 75% da população já estava completamente vacinada.

De acordo com o FMI, a economia chilena retraiu 5,8% em 2020, mas a política governamental agressiva de resposta ajudou a combater os impactos da recessão e acelerar a recuperação econômica. Assim, o Chile injetou US$ 34 bilhões – 13% do PIB – na saúde, em diferimentos de impostos, em subsídios e benefícios de desemprego, no suporte de renda para vulneráveis ​​e famílias de classe média e para crédito para pequenas e médias empresas.

O Chile possui, principalmente, problemas sociais, que demandam uma forte justiça social para diminuir a desigualdade, uma das maiores entre os países em desenvolvimento. Além disso, é possível apontar outros problemas enfrentados pela economia chilena, como a dívida externa, a recuperação econômica pós-pandemia, a baixa produtividade e o avanço da economia verde.

A dívida externa pode ser controlada pelo estímulo econômico e encorajamento de investimento estrangeiro. Com isso, o governo poderá garantir crescimento econômico sem a necessidade de pedir empréstimos. O investimento estrangeiro caiu desde 2016, de US$ 11 bilhões para US$ 6 bilhões em 2017. Assim, o governo deve focar em atrair investimento estrangeiro e facilitar a entrada de empresas estrangeiras, a fim de garantir um crescimento econômico independente de empréstimos.

 O desenvolvimento sustentável entrou na agenda dos países em desenvolvimento, e o Chile se comprometeu a garantir neutralidade ao carbono até 2050. Entretanto, os níveis de emissões de carbono aumentaram nos últimos anos no país acompanhando o crescimento do PIB. Além disso, a recuperação econômica pós-pandemia pode aumentar as emissões de carbono. Assim, o governo deve implementar medidas sustentáveis de recuperação e focar nos setores econômicos mais poluentes que foram afetados pela pandemia e, assim, verificar melhorias de caráter sustentável nestes setores.

A produtividade chilena é uma das menores dentre os países da OCDE. Uma das medidas para melhorar a produtividade é a transformação digital. A falta de acesso e da habilidade dos chilenos em relação à tecnologia é notável, além do escasso acesso à internet em áreas rurais. Implementar medidas que democratizem o ensino tecnológico e o investimento em internet de alta qualidade, garantirá que o Chile tenha mais práticas inovadoras no campo dos negócios e, assim, acompanhe as mudanças do cenário produtivo e aumente sua produção.

A desigualdade social é o principal problema do país. Os mais vulneráveis se encontraram mais prejudicados durante a pandemia. Educação de qualidade para todos é uma das formas de se combater a desigualdade, através da garantia de bom ensino primário e secundário, e, dessa forma, elevar as oportunidades da classe baixa. Entretanto, o desemprego se mostrou crescente em 2020. Assim, garantir cursos de treinamento e elevar a profissionalização da população ajudará com que os mais vulneráveis tenham mais chances de conquistar vagas no mercado de trabalho. Além disso, a privatização de setores essenciais como de pensão e saúde também são causas dos elevados índices de desigualdade. Logo, o governo deve subsidiar a pensão e oferecer programas que garantam tratamento hospitalar sem custos aos mais pobres.

O modelo neoliberal chileno, ancorado nas propostas de Milton Friedman, da Escola de Chicago e do Consenso de Washington, pode ter assegurado o desenvolvimento econômico e aumentado os padrões da qualidade de vida no país desde a ditadura de Pinochet. Porém, a ausência do governo na economia prejudicou a população vulnerável, como também a classe média, aumentando a dívida, a pobreza e o desemprego. Somando todas as consequências da desigualdade social no Chile, a erupção dos protestos em 2019 foi o principal resultado da política neoliberal dos últimos anos.

Bibliografia

MEYER, Peter J. Chile: An Overview. Congressional Research Service: 2021.

LANGMAN, Jimmy. From Model to Muddle: Chile’s Sad Slide Into Upheaval. Foreign Policy, 23 nov. 2021. Disponível em: https://foreignpolicy.com/2019/11/23/chile-upheaval-protests-model-muddle-free-market/

How Sebastián Piñera is leading Chile Towards Economic Success. Biz Latin, 07 fev. 2021. Disponível em: https://www.bizlatinhub.com/sebastian-pinera-leading-chile/

GARDA, Paula; RUIZ, Nicolas. Preparing for better times: Chile’s policy priorities for an inclusive recovery. OECD, 04 fev. 2021. Disponível em: https://oecdecoscope.blog/2021/02/04/preparing-for-better-times-chiles-policy-priorities-for-an-inclusive-recovery/

OECD Economic Surveys: Chile. OECD: fevereiro 2021.

Gabriel Moncada Xavier

Estudante de Relações Internacionais e experiente em simulações da ONU. Sou curioso e quero olhar para o mundo com todas as lentes possíveis. Gosto de diplomacia, política externa, organizações internacionais e Direitos Humanos.

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