Dr. Fantástico: Uma Sátira à Guerra Fria
Senhores, não podem brigar aqui. É uma Sala de Guerra.
Com um tom satírico e de um humor ácido, Dr. Fantástico é lançado em 1964 por Stanley Kubrick. O tema do filme era atual na época, a Guerra Fria, o que o tornou extremamente polêmico quando lançado. Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba Atômica (Dr. Strangelove or How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb) satiriza não só o conflito como a política internacional que envolvia as principais potências mundiais na conjuntura da Guerra Fria.
O filme é sobre a ocorrência de uma guerra nuclear causada por um comandante da Força Aérea dos Estados Unidos, perturbado por paranoias comunistas, e a tentativa de suspendê-la por meio da dissuasão. A ordem para o ataque nuclear à Rússia pelo código “R” foi realizado sem consulta prévia, nem mesmo o presidente dos Estados Unidos soubera da ação. Instaura-se, assim, o medo e a ansiedade por um Guerra Nuclear que poderia ter fins irremissíveis.
Apesar de ter sido considerado na época um acontecimento inverossímil – uma Guerra Nuclear iniciada por um deslize humano – a obra de Kubrick traz inúmeras reflexões sobre a condução das relações internacionais e dos conflitos mundiais.
Primeiramente, o que foi a Guerra Fria? Com o término da Segunda Guerra Mundial, o mundo se dividiu entre os Estados Unidos e seus aliados contra a União Soviética. Uma guerra travada por ideologias díspares – o comunismo (URSS) e o capitalismo (EUA) – e pela corrida armamentista e tecnológica para o pódio de maior potência global.
Aliadas durante a Segunda Guerra Mundial, com o fim do conflito em 1945, as tensões entre União Soviética e Estados Unidos se mostraram presente durante a Conferência de Postdam. A URSS instituiu regimes pró-comunistas em diferentes regiões da Alemanha Oriental, diante disso os EUA desencadearam políticas de contenção na tentativa de evitar a disseminação da influência soviética por toda a Europa. Leste e oeste, com o imperialismo de ambos os lados, o Leste defrontou-se para a contenção do comunismo, o Oeste persistiu na ampliação de sua ideologia. (JFKLIBRARY, 2020)
Coalizões militares, planos econômicos, intenso incentivo de incremento bélico e tecnológico, corrida espacial, propaganda intensiva, espionagem e conflitos entre nações da Ásia, África e América Latina foram características presentes durante o conflito entre as duas superpotências. “Guerra Fria” recebia esse nome pelo conflito ter sido mais indireto do que direto, um conflito que gerou grandes gastos para a defesa de ambos países, uma defesa composta pela arma mais destrutível já inventada, a bomba de hidrogênio. Se acontecesse de fato uma guerra, seria uma Guerra Nuclear e não uma Guerra Fria, em que não haveria ganhadores, uma vez que quase todo o globo seria comprometido, além das consequências ambientais e de saúde causada pela radiação.
É nesse contexto que é estabelecido o roteiro de Dr. Fantástico. A vida de milhares humanos dependia de duas nações e das decisões de seus respectivos principais políticos. Uma única ordem poderia comprometer toda vida biológica do mundo. Ademais, o filme alfineta como a propaganda anti-comunista era concebida, de forma tão intensiva que interferia muitas das vezes no psicológico humano de quem estava sendo alienado. Kubrick, por meio de seu filme, pondera reflexões como: quantas pessoas foram presas, torturadas e mortas por paranoias anti-comunistas? Quantas morreram e quantos desastres ambientais e sociais não aconteceram no mundo devido a cálculos errados por militares incapacitados? Pela arrogância humana?
Há uma grande diferença entre propaganda e paranoia, mas na atmosfera febril da época a transição foi fácil. Os eventos tomaram um rumo mais violento com o início da caça às bruxas macartista em 1950. O senador Joseph McCarthy fez alegações de subversão comunista generalizada nos Estados Unidos, do exército ao governo (TELEGRAFH, 2020)
Apesar do conteúdo de humor e sátira e dos exageros à parte, Kubrick reproduz eventos e atitudes admissíveis. Uma guerra nuclear era deveras difícil de acontecer, mas não impossível. Além disso, as falhas da condução política de diferentes estadistas e militares ocorreram durante a Guerra Fria e em vários outros conflitos, como a própria Guerra do Vietnã.
General: Se atacarmos… todas as suas bases aéreas e de mísseis poderíamos pegá-los desprevenidos.
Presidente: Está falando em massacre, não em guerra.
Resposta do general: Não vão morrer mais que 20 milhões, questão de sorte.
Presidente: Não vou entrar na história como o maior matador em massa depois de Hitler.
General: Preocupa-se mais com o povo americano que com sua imagem na história.
As ações abusivas de poder por parte de figuras de autoridade e instituições é algo presente em vários momentos da história das relações internacionais. A Guerra Fria não foi diferente. Kubrick retrata essa questão de uma forma cômica, mas que não nos tira a atenção para a realidade. São críticas embasadas no humor e que funcionam perfeitamente. Dr. Fantástico é uma obra prima do cinema, seu final é introspectivo e sombrio:
A Terceira Guerra Mundial, a Guerra Nuclear, iria acontecer, pois não havia mais nada que pudessem fazer. Dr. Strangelove explica que armas nucleares projetavam um futuro no qual a radiação seria tremenda que apenas partes da terra seria habitável. Porém, quem seriam os escolhidos para morar nessas áreas habitáveis? A depender de uma solução feita por uma máquina ou dos principais políticas das relações internacionais? O Dr.strangelove continua sua explicação dizendo que essas áreas deveriam ter 10 mulheres para cada homem, essas mulheres deveriam ser escolhidas por aspectos físicos “estimulantes” para a procriação.
Excelente artigo, Ana Clara. Sou jornalista e estou desenvolvendo um podcast sobre história. Ainda não foi lançado, estou em fase de produção. O tema de um dos programas será a Guerra Fria. Gostaria de entrevistar você via Zoom justamente sobre esse filme do Stanley Kubrick – Dr. Fanstástico. Se você tiver interesse a entrevista seria por zoom no dia e horário que forem melhores pra você.
Aguardo retorno.
Atenciosamente,
Pablo de Moura