EXTREMA DIREITA HÚNGARA: O CASO DO PARTIDO JOBBIK

EXTREMA DIREITA HÚNGARA: O CASO DO PARTIDO JOBBIK

Fonte: Leigh Phillips, 2011

1. INTRODUÇÃO

A extrema direita vem ampliando sua presença no continente europeu, por meio da vitória em eleições como da Itália, Alemanha, Espanha, entre outros.  No que se refere à Hungria, observa-se a crescente presença de partidos da ultra direita, sendo os principais o Fidesz e o Jobbik. Ao observar o embasamento político húngaro, podemos notar um país que saiu de um regime de esquerda que durou muitos anos e que antecedeu o surgimento de organizações dotadas de valores extremos, os quais ferem os direitos humanos, além de promoverem rupturas democráticas. 

Desde a ascensão de Viktor Orban pelo partido político nacionalista e conservador Fidesz, nas eleições parlamentares húngaras de 2010, o contexto político do país vem sendo tomado pela contíua expansão de partidos de direita ultrarradicais, com forte retórica nacionalista, anti-imigratória, antissemitista e contrários aos processos de integração e globalização.  Tais associações políticas almejam obter cada vez mais uma base eleitoral de larga escala, a fim de se tornarem um forte opositor político, ultrapassando o Fidesz como a principal entidade política da defesa dos valores nacionalistas e conservadores húngaros.

 O Jobbik (Movimento por uma Hungria Melhor) é um desses partidos adversários, que aos poucos foi se consolidando como um dos grandes concorrentes ao Fidesz durante a segunda década do século XXI. Inicialmente caracterizado por apresentar uma vertente ultra radical de direita, o partido vem se restruturando e adotando uma retórica moderada e conciliatória, chegando até mesmo a se autoproclamar como um partido de centro-direita.   

 Contudo, essa estratégia fez com que o partido perdesse uma significativa parcela de seu eleitorado e até mesmo suas representações no parlamento húngaro com as eleições parlamentares de 2022. O presente artigo objetiva elencar as principais ideias que o partido defende e suas possíveis estratégias para se tornar o principal partido da extrema direita da Hungria. 

2. CONTEXTO HISTÓRICO E SITUAÇÃO ATUAL

Figura 1: localização geográfica do território húngaro

Fonte: Elaboração própria, 2023.

Conforme descrito anteriormente, a pauta anti-imigratória é um dos grandes pilares de sustentação do eleitorado nacionalista e conservador húngaro. A Hungria é caracterizada por ser um país majoritariamente monoétnico, cerca de 83% de sua população pode ser considerada verdadeiramente húngara (LILIA ILIKOVA, ET AL. 2020). Tais fatores abrem margem para a retórica contrária à imigração.  No auge da crise migratória da Europa no ano de 2015, a Hungria construiu uma cerca na sua fronteira com a Sérvia e a Croácia. O intuito da Figura 1 é ilustrar essa questão fronteiriça e o impacto que ela possui em conter os fluxos migratórios para a Hungria. 

Somado a esses fatores, é importante ressaltar um ponto acerca do contexto político húngaro. Desde a chegada de Viktor Orbán como primeiro-ministro, o país vem sofrendo um grande processo de desmantelamento democrático, por meio da repressão a opositores, perseguição contra a comunidade LGBTQIA+ e outros grupos, além do controle estatal sobre as instituições democráticas húngaras (FORTI, 2021). 

O país possui um dos aparatos legislativos mais hostis contra migrantes e refugiados. Em 2018, o Parlamento húngaro aprovou uma lei que torna praticamente impossível solicitar refúgio no país, além de criminalizar a ajuda de qualquer cidadão húngaro a esses grupos estrangeiros (HUMAN RIGHTS WATCH, 2018). Além disso, outro mecanismo do governo húngaro tem sido a deportação compulsória de migrantes e refugiados para a Sérvia (VERSEK, 2021.)

Tendo em vista essa conjuntura, o Jobbik se apresenta como um dos principais partidos políticos do país que tem por objetivo continuar a defender os interesses nacionalistas e conservadores do eleitorado húngaro. O Jobbik foi fundado em 2003, por um grupo de estudantes de extrema direita da Universidade de Budapeste (LILIA ILIKOVA, ET AL. 2020). Em um primeiro momento, o partido não desempenhou um papel de destaque no contexto político do país. Porém, desde 2009, o partido entrou em um processo de ascensão dentro do parlamento húngaro, ganhando um número cada vez mais expressivo dentro da instituição política (LILIA ILIKOVA, ET AL. 2020).  

As pautas defendidas pelos apoiadores do Jobbik são consideradas neonazistas, antissemitas, racistas e homofóbicas. O lema do partido é “ Hungria para Húngaros” (LILIA ILIKOVA, ET AL. 2020). Além disso, outra tática que fortalece o movimento é a grande parcela da população jovem adulta dentro do partido (PIRRO e RÓNA, 2019). O Jobbik é conhecido por conseguir mobilizar um grande contingente de jovens húngaros para o apoio de seus valores, especialmente por meio das mídias sociais (PIRRO e RÓNA, 2019). A população jovem húngara encontra no partido político uma grande sensação de pertencimento. De acordo com uma pesquisa realizada entre 2011 a 2015, o Jobbik se mostrou ser o partido político mais popular entre a comunidade universitária (PIRRO e RÓNA, 2019). Entretanto, as eleições parlamentares de 2022 representaram um novo contexto desfavorável para o partido. 

3. SITUAÇÃO ATUAL

O atual contexto político do país é marcado pela contínua radicalização do partido político mais expressivo do país, o Fidesz, este que vem elegendo em mandatos consecutivos, o primeiro-ministro Viktor Orbán desde as eleições parlamentares de 2010. A radicalização do Fidesz vem dificultando a arena disponível para os outros partidos de direita do país, colocando em questionamento o próprio comprometimento do partido com os princípios democráticos (PIRRO e RÓNA, 2019). 

Dessa maneira, desde 2013, a fim de alargar sua base eleitoral, o Jobbik vem estruturando sua retórica para um viés mais moderado (PIRRO e RÓNA 2019).  A fim de se tornar mais atraente para as camadas mais populares do eleitorado húngaro, o partido vem procurando suavizar suas principais retóricas, o que acabou acarretando em grandes dissidências dentro do partido, além da perda de aliados cruciais (PIRRO e RÓNA, 2019). Antes considerado a maior ameaça à democracia húngara, o Jobbik tentou formar uma coalizão com partidos de outros espectros políticos, a fim de obter uma vitória contra o Fidesz nas eleições parlamentares de 2022 (BEDE, 2021). 

Essa nova estratégia do partido de adotar uma retórica de centro-direita trouxe consequências para as eleições parlamentares de 2022, na qual o Jobbik perdeu cerca de 17  representantes no parlamento húngaro, representando uma grande perda de votos de seus eleitores (HUNGARY TODAY, 2022). Além disso, outra consequência que foi observada, foi a ascensão de partidos de direita ultrarradicais, como o Mi Hazánk (O Movimento da Nossa Pátria), fundado por ex-membros do Jobbik, que procuram colocar em prática e atrair o eleitorado húngaro com ideais mais radicais, nacionalistas e conservadores que o Jobbik advocava em seus primórdios. 

4. AS POSSÍVEIS ESTRATÉGIAS DO PARTIDO PARA AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES PARLAMENTARES

Embora seja difícil prever qual estratégia o partido irá colocar em prática após perder assentos importantes no parlamento húngaro, uma nova tática terá que ser implementada pela sigla. Após o Fidesz vencer com ampla maioria nas eleições de 2022, o partido de centro-direita irá precisar conhecer melhor os anseios da população húngara. A radicalização do Fidesz vem incorporando as pautas mais extremistas que o Jobbik defendia nos seus anos iniciais, como mobilizar a ansiedade do eleitorado húngaro perante a crise migratória (PETSINIS, 2020). Além disso, a mudança de estratégia do Jobbik em se autoproclamar um partido de centro-direita, bem como promover uma retórica moderada, teve um impacto significativo na perda do eleitorado do partido (PETSINIS, 2020). 

Portanto, em decorrência da grande ascensão do radicalismo no contexto político da Hungria, o Jobbik, com o objetivo de retomar sua base eleitoral para conter o avanço do Fidesz, possivelmente precisará alterar sua retórica para um viés mais radical, procurando inflar as pautas nacionalistas e conservadoras, com a finalidade de que ele se torne novamente um dos principais partidos adversários e consiga mais legitimidade e apoio político para recuperar seus assentos no parlamento húngaro.

5. CONCLUSÃO

Findando a discussão no presente artigo, é possível inferir que o Jobbik precisará adotar uma nova tática que contemple a atual conjuntura política de radicalização na Hungria, tendo em vista a vantagem massiva dos assentos do parlamento sob o controle do Fidesz, tornando possível Orbán continuar suas ações autoritárias. Assim sendo, para que o partido obtenha alguma vantagem nas futuras eleições, pode ser que ele tenha que abandonar a sua retórica moderada e realizar uma transição para um viés mais radical, nacionalista e conservador, além de formar coalizões com partidos de diferentes vieses, para que seus objetivos sejam concretizados e o grupo se torne novamente um grande opositor à agenda do Fidesz. 

REFERÊNCIAS

AFTER Low-Key Campaigning and Shocking defeat, Is Jobbik In Trouble?. Hungary Today, 2022. Disponível em: <https://hungarytoday.hu/jobbik-right-opposition-election-campaign-defeat-jakab-trouble/>. Acesso em: 26 jul. 2023. 

BEDE, Á. Jobbik: What Does it Take to Deradicalise a Far-Right Party? Disponível em: <https://bylinetimes.com/2021/12/20/jobbik-what-does-it-take-to-deradicalise-a-far-right-party/>. Acesso em: 26 jul. 2023. 

FORTI, S. Cómo construyó Viktor Orbán la «democracia iliberal» en Hungría Entrevista a Stefano Bottoni | Nueva Sociedad. Disponível em: <https://nuso.org/articulo/Orban-Hungria-iliberalismo/>. Acesso em: 26 jul. 2023. 

HUNGARY Tries to Stop Asylum Seekers with New Law. Human Rights Watch, 2018. Disponível em: <https://www.hrw.org/news/2018/06/22/hungary-tries-stop-asylum-seekers-new-law>. 

Acesso em: 12 set. 2022.

LILIA ILIKOVA, ET AL. Right-Wing Populism in Central Europe: Hungarian Case (Fidesz, Jobbik). Utopía y Práxis Latinoamericana, v. 25, p. 325–332, 2020.

PETSINIS, Vassilis. The rise and fall of Jobbik. Open Democracy, 2020. Disponível em: <https://www.opendemocracy.net/en/can-europe-make-it/rise-and-fall-jobbik/>. Acesso em: 12 mai. 2022.

PIRRO, Andrea L. P.; RÓNA, Dániel. Far-right activism in Hungary: youth participation in Jobbik and its network. European Societies, v. 21, n. 4, p. 603–626, 2019.

VERSECK, Keno. How Hungary is violating EU law on refugees. DW, 2021. Disponível: <https://www.dw.com/en/how-hungary-is-violating-eu-law-on-refugees/a-56503564>. Acesso em: 26 jul. 2023. 

IMAGENS

Philips, Leigh. Disponível em: <https://flic.kr/p/9vWqFZ>. Acesso em: 26 jul. 2023. 

Pedro Henrique Santos Chaves

Graduando em Relações Internacionais pela UFG. Sou fascinado por cinema e literatura de suspense, fantasia e ficção científica. Tenho grande interesse em questões voltadas para o Continente Africano e América Latina, como Guerras Civis, Ditaduras Militares, Intervenções Humanitárias e Terrorismo.

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