A ECONOMIA CIRCULAR: O FUTURO (E O PRESENTE) DA SUSTENTABILIDADE

A ECONOMIA CIRCULAR: O FUTURO (E O PRESENTE) DA SUSTENTABILIDADE

A SITUAÇÃO ATUAL

Um dos grandes dilemas que a economia tenta resolver há tempos é: como crescer infinitamente e ter demandas ilimitadas com recursos naturais finitos e limitados? (Cavalcante, 2023). Com o passar dos séculos, a evolução dos meios produtivos e da sociedade, de uma forma geral, causaram danos e perdas profundas ao meio ambiente. É notável que o atual modelo econômico linear de produção está chegando ao seu limite (ou já não chegou?). Com isso, surge uma alternativa a ele: a economia circular.

No meio ambiente, resíduos de frutas ingeridas por animais se transformam em fertilizantes naturais (adubo) para as plantas. Esse processo é chamado de “cradle to cradle” (do berço ao berço), no qual a noção de desperdício não existe, tudo é continuamente reaproveitado em um novo ciclo. Assim se mostra o princípio da economia circular, conceito baseado na inteligência da natureza, onde os resíduos se tornam insumos para a produção de novos produtos (eCycle, c2010).

O sistema produtivo atual não pode ser considerado sustentável, já que tem como base a exploração excessiva de recursos e o grande acúmulo de resíduos. O processo de produção linear consiste na exploração da matéria-prima, a produção de bens e, por fim, o descarte. O objetivo de lucro e consumo também fez com que surgisse a obsolescência programada, técnica que constitui-se em produzir itens já tendo em vista qual será o tempo de vida útil deles, o que faz com que acumule resíduos que não têm novos usos, exponencialmente. (eCycle, c2010) Tendo em vista a América Latina, o campeão de geração de lixo é o Brasil, produzindo cerca de 541 mil toneladas por dia (Souza, 2019). 

A ECONOMIA CIRCULAR

Essa nova forma de ver o sistema produtivo repensa as práticas econômicas a longo prazo, indo além dos “três famosos Rs” (reduzir, reutilizar e reciclar), adicionando a economia restaurativa e regenerativa. A economia circular nasce com a tentativa de unir o modelo sustentável com o ritmo tecnológico e comercial do mundo contemporâneo, que desperta uma nova maneira de utilizar matérias primas e energia (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2015; Leitão, 2015).

Assim, os recursos podem se regenerar em dois ciclos diferentes: no ciclo biológico, em que o processo é natural e ocorre com a intervenção do homem ou não e o ciclo técnico, em que com energia suficiente, a regeneração ocorre, necessariamente, através da intervenção humana. Deste modo, o modelo tem como base três fundamentos essenciais. O primeiro deles foca na preservação e aumento de capital natural. Já o segundo refere-se a circulação constante de produtos, componentes e materiais nos ciclos biológicos e técnicos, favorecendo assim o melhor aproveitamento dos recursos. Por fim, o terceiro princípio centra-se na eficiência do sistema, que é possível através da identificação e exclusão das externalidades negativas (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017).

A partir do exposto acima pode-se concluir que a economia circular é um modelo econômico, que propõe uma nova abordagem em relação a oportunidades de negócios, trabalho colaborativo, preservação e aumento do capital natural e, um de seus pontos fundamentais, com contribuições para a sustentabilidade social, econômica e ambiental. Novas formas de operações e relações empresariais são feitas, mudando não só a responsabilidade dos empresários como também seus lucros (Luz, 2017). Agora, o foco é outro.

ECONOMIA CIRCULAR E A EUROPA

A Comissão Europeia aprovou, em 2015, um projeto visando a evolução do continente para uma economia circular, incluindo 54 medidas para otimizar o uso e reuso de produtos, priorizando sobretudo cinco setores, dentre eles construção e demolição. Já em dezembro de 2019, foi anunciado um planejamento para a conversão da economia europeia em uma economia moderna, eficiente em relação a recursos e competitiva. Assim, em março de 2020 a nova estratégia para a economia circular foi instituída, integrando o Green Deal. A partir disso, três principais países são líderes na corrida para estabelecer as estratégias, sendo eles Holanda, França e Itália (ADS Logística Ambiental, 2023). 

O governo holandês tem como objetivo se tornar um país em que sua economia seja 100% circular até 2050. Para isso uma série de agendas foram aprovadas em 2018, concentradas em cinco setores. No ano seguinte, surgiram novos projetos e regulamentos, como a construção de edifícios do governo com o máximo de materiais e recursos reciclados possíveis (além de serem construídos com emissões zero) (ADS Logística Ambiental, 2023).

Na França, um grande ponto a ser ressaltado é que eles foram pioneiros na proibição da eliminação de mercadorias não alimentares que não foram vendidas, assim as empresas são obrigadas a reciclar, doar ou reutilizar seus produtos não comercializados. Em 2020, o governo francês introduziu a lei anti-resíduos, visando extinguir o desperdício, a poluição e mudar o sistema de produção, distribuição e consumo para um padrão circular. Ademais, uma das metas contida na lei é a redução progressiva das embalagens plásticas de uso único até 2040 (ADS Logística Ambiental, 2023). 

Segundo o relatório “Rapporto Sull’Economia Circulare in Italia” (2020), apresentado pela Fundação Italiana para o Desenvolvimento Sustentável e o Consórcio Nacional para a Coleta, Reciclagem e Reutilização de Embalagens Plásticas (COREPLA), a Itália se destaca como líder na economia circular. A legislação orçamentária italiana de 2020 incorporou ações alinhadas ao Green Deal europeu. A lei viabilizou a instauração de um fundo público destinado a incentivar iniciativas inovadoras nas áreas de sustentabilidade, economia circular, turismo verde, descarbonização e combate às alterações climáticas (ADS Logística Ambiental, 2023). 

ECONOMIA CIRCULAR E O BRASIL

A situação atual não é a melhor para o Brasil. Estima-se que perde-se (todos os anos) mais de R$ 8 bilhões em materiais direcionados para aterros e lixões clandestinos, além de ter mais de um milhão de pessoas vivendo e trabalhando nesses lugares insalubres. Apesar da imensa quantidade de riquezas naturais que o país possui, a consciência de que esses recursos são finitos é fundamental. Outro dado alarmante é que, de acordo com a Green Eletron, os brasileiros estão na quinta posição dos maiores geradores globais de resíduos eletrônicos. Foram mais de dois milhões de toneladas descartadas em 2019 e apenas 3% reciclado. (Arslanian, 2022).

De acordo com uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 76,4% das indústrias do país desenvolvem algum tipo de economia circular (Arslanian, 2022). Segundo Robson Braga de Andrade, presidente da CNI, parte da indústria brasileira tem adotado práticas como o reuso da água, reciclagem de materiais e logística reversa, porém ainda há muito potencial a ser explorado. Um dado curioso também mostrou que 70% dessas empresas nunca tinham ouvido falar no assunto de economia circular, mostrando que o tema ainda precisa ser mais difundido e evidenciado (Arslanian, 2022).

A partir de tudo que foi exposto acima nota-se que há duas vertentes da economia circular: uma relacionada com o modelo político-econômico de produção e outra com o sistema produtivo num âmbito individual, mais ligada a empresas. Apesar disso, as duas se relacionam fortemente e andam juntas, sendo fundamental que tanto o modelo político-econômico geral quanto o sistema de produção individual estejam alinhados com a sustentabilidade. Assim, fica claro que não só o Brasil, mas o mundo todo, ainda têm muito a evoluir.

REFERÊNCIAS

ELLEN MACARTHUR FOUNDATION. UMA ECONOMIA CIRCULAR NO BRASIL: Uma abordagem exploratória inicial. 2017. Disponível em: https://archive.ellenmacarthurfoundation.org/assets/downloads/languages/Uma-Economia-Circular-no-Brasil_Uma-Exploracao-Inicial.pdf. Acesso em: 14 set. 2023. 

ELLEN MACARTHUR FOUNDATION. Rumo à Economia Circular: O racional de negócio para acelerar a transição. 2015. Disponível em: https://archive.ellenmacarthurfoundation.org/assets/downloads/Rumo-%C3%A0-economia-circular_SumarioExecutivo.pdf. Acesso em: 14 set. 2023. 

LUZ, Beatriz. (Org.). Economia circular Holanda: Brasil: da teoria à prática. 1. ed. — Rio de Janeiro: Exchange 4 Change Brasil, 2017. 

GONÇALVES, Taynara Martins; BARROSO, Ana Flavia Fonseca. A economia circular como alternativa à economia linear. XI Simpósio de Engenharia de Produção de Sergipe, nov, 2019. Disponível em: https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/12561/2/EconomiaCircularAlternativa.pdf. Acesso em: 15 set. 2023.

Como os países estão se esforçando para construir sua economia circular. ADS Logística Ambiental, 2023. Disponível em: https://adslogisticaambiental.com.br/como-os-paises-estao-se-esforcando-para-construir-sua-economia-circular/#:~:text=De%20acordo%20com%20um%20relat%C3%B3rio,em%20termos%20de%20economia%20circular. Acesso em: 15 set. 2023.

BOCCHINI, Bruno. No Brasil, 76% das indústrias aplicam economia circular, diz pesquisa. Agência Brasil, 2019. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-09/no-brasil-76-das-industrias-aplicam-economia-circular-diz-pesquisa. Acesso em: 15 set. 2023.

O que é Economia Circular e quais seus princípios? eCycle, c2010/2023. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/economia-circular/. Acesso em: 16 set. 2023. 

TOSINI, Maria de Fátima Cavalcante. A sustentabilidade ambiental no setor financeiro: da autorregulação à regulação. Repositório da Produção Científica e Intelectual do da Unicamp, 2013. Disponível em: https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/912862.  Acesso em: 13 set. 2023.

ARSLANIAN, Guilherme. Economia Circular pode tirar Brasil da 5ª posição dos geradores de resíduos. Exame, 2022. Disponível em: https://exame.com/bussola/economia-circular-pode-tirar-brasil-da-5a-posicao-dos-geradores-residuos/. Acesso em: 13 set. 2023. 

SOUZA, Ludmilla. Brasil gera 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano. Agência Brasil, 2019. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-11/brasil-gera-79-milhoes-de-toneladas-de-residuos-solidos-por-ano. Acesso em: 24 set. 2023.

Rapporto Sull’Economia Circulare in Italia Con Focus sulla bioeconomia, ENEA. Disponível em: https://circulareconomynetwork.it/wp-content/uploads/2020/04/Rapporto-sulleconomia-circolare-in-Italia-2020_r04.pdf. Acesso em: 24 set. 2023.

Imagem: Tera Ambiental, 2023.

Maya Fernandes Freitas

Nascida e criada em São Paulo e graduanda em Ciências Econômicas pela UFSCar. Tudo que envolve o entendimento de problemas sociais e como superá-los me interessa. Além disso, apaixonada por literatura e esportes.

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