América Latina: saliendo de la superficie

América Latina: saliendo de la superficie

A história e as consequências

Na maioria das vezes em que se ouve falar em “América Latina”, pensamentos pejorativos e simplórios vêm à mente: “um lugar atrasado, violento, sem educação de qualidade, pobre”. Mas de onde vêm essas ideias e por que isso acontece há séculos?

As questões que existem hoje vêm desde o período da colonização. Convencionou-se chamar América Latina aqueles países em que a colonização foi exercida por Portugal, Espanha e França. Assim, a população desses países foi sendo construída a partir da miscigenação entre brancos europeus, negros, indígenas e mestiços. Em contraposição, a América Anglo-Saxônica, isto é, colonizada predominantemente pela Inglaterra, é formada, em sua maioria, pela raça caucasiana (brancos).

Mas afinal, o que a colonização, processo que aconteceu há séculos, tem relação com a realidade que aparece hoje nos jornais? Tudo. De acordo com Joseph Stiglitz, economista internacionalista estadunidense, a exploração dos colonizadores gerou grande parte da desigualdade na América Latina. Segundo a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), em 2019, 30,5% da América Latina seriam pobres e 11,3% estariam em extrema pobreza.

Com grande parte da população em situações de vida tão críticas, não sobra tempo para pensar em qual graduação fazer ou mesmo em terminar o ensino médio. Grande parte das crianças que se encaixam nessa porcentagem precisam trabalhar desde cedo para contribuir com a renda familiar.  A prioridade de muitos não é aprender a fórmula de Bhaskara, e sim calcular se o dinheiro dará para alimentar a família toda até o final do mês.

O ERCE (Estudo Regional Comparativo e Explicativo) divulgou dados coletados do período anterior à pandemia. De acordo com a pesquisa, 44,3% dos alunos da terceira série estão no nível mais baixo de aproveitamento em literatura e 47,7% no mais baixo em matemática. Já na sexta série, 23,3% tiveram o nível de mais baixo desempenho em leitura e 49,2% em matemática. Além disso, os dados do ERCE também trazem informações sobre alguns fatores externos relacionados à aprendizagem. Um exemplo é a relação entre nível socioeconômico e resultados escolares. Ficou claro que quanto maior o nível, melhor o resultado do estudo. Outro ponto importante é o número de horas de aula: os que mais faltaram obtiveram piores resultados do que aqueles que se mantiveram regulares.

A educação e a violência

As questões da educação na América Latina vão muito além de conscientizar as crianças e seus pais de que “é importante estudar”. Ademais, os problemas educacionais acarretam em todos os outros pilares da sociedade, gerando adversidades, como é o caso da violência. Em um relatório divulgado em julho de 2019 pelas Nações Unidas, a América Latina tem as maiores taxas de homicídio do mundo, o que só reforça o título de “região mais violenta”.

De todos os homicídios registrados no planeta, 37% foram na América Latina, que detém apenas 8% da população mundial. Além disso, de acordo com o Instituto Igarapé, desde 2000 até 2019, mais de 2,5 milhões de latino-americanos foram violentamente assassinados. Por trás dos números assustadores existem diversos especialistas tentando explicar todos os fatores que contribuem para tamanha violência: o crime organizado, o narcotráfico, a impunidade, a desigualdade, os governos corruptos e autoritários e, finalmente, a educação. Mas o que, de fato, é causa ou consequência da violência latina?

Alguns estudos elaborados pelo TCE-RS (Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul) e por um professor do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), demonstram uma relação inversa entre crime e educação. Quanto maiores são as taxas de escolarização, menores são os registros de violência. O professor afirma: “Percebemos que a chance de alguém que não tem o Ensino Médio sofrer homicídio no Brasil é 15,9 vezes maior do que alguém que tenha nível superior, o que mostra que a educação é um verdadeiro escudo contra os homicídios no Brasil” (Cristine Gallisa, G1, 2017).

Além disso, também foram comparados as taxas de escolarização e os registros de casos de violência. Débora da Rocha, auditora pública externa do TCE, explica: “Em municípios onde tinha maior taxa de abandono do ensino fundamental, a taxa de homicídio doloso é maior, e naqueles em que a expectativa de anos de estudo é menor, também havia maior número de homicídios” (Cristine Gallisa, G1, 2017). A partir do que os dados indicam, a educação realmente pode ser um caminho para uma sociedade mais legítima.

Os pensamentos que vêm à mente quando se escuta falar em “América Latina” podem até ser pejorativos e simplórios, mas, tendo em vista a pincelada que foi vista acima, não se pode dizer que são pensamentos mentirosos. Porém, é importante que as análises saiam do campo superficial e as questões mais antigas e profundas sejam entendidas, pois impactam diretamente no dia a dia de milhões de pessoas. Além disso, foi possível notar a importância da educação como pilar de uma sociedade. Mas afinal, será que apenas a educação consegue salvar uma região quebrada?

Referências Bibliográficas

BEZERRA, Juliana. América Latina. Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/america-latina/. Acesso em 17 maio 2022.

LISSARDY, Geraldo. Por que a América Latina é a ‘região mais desigual do planeta’. BBC News, 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51406474. Acesso em 17 maio 2022.

PADINGER, Gérman. Pobreza na América Latina: uma comparação entre países e o impacto da pandemia. CNN Brasil, 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/pobreza-na-america-latina-uma-comparacao-entre-paises-e-o-impacto-da-pandemia/#:~:text=J%C3%A1%20a%20Comiss%C3%A3o%20Econ%C3%B4mica%20para,milh%C3%B5es%20viveriam%20em%20extrema%20pobreza. Acesso em 17 maio 2022.

MOLINA, Federico. Qualidade da educação não avança na América Latina, segundo a Unesco. El País, 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/sociedade/2021-11-30/qualidade-da-educacao-nao-avanca-na-america-latina-segundo-a-unesco.html#:~:text=A%20educa%C3%A7%C3%A3o%20na%20Am%C3%A9rica%20Latina,fundamentais%20em%20leitura%20e%20matem%C3%A1tica. Acesso em 18 maio 2022.

LISSARDY, Geraldo. Por que a América Latina é a região mais violenta do mundo. BBC News, 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-48988559. Acesso em 18 maio 2022.

GALLISA, Cristine. Pesquisas apontam educação como ‘escudo’ contra criminalidade. G1, 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/pesquisas-apontam-educacao-como-escudo-contra-criminalidade.ghtml. Acesso em 18 maio 2022.

Imagem: Leonardo Milano, 2019

Maya Fernandes Freitas

Nascida e criada em São Paulo e graduanda em Ciências Econômicas pela UFSCar. Tudo que envolve o entendimento de problemas sociais e como superá-los me interessa. Além disso, apaixonada por literatura e esportes.

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