VALEU A PENA? AS CONSEQUÊNCIAS DO BREXIT PARA O REINO UNIDO

VALEU A PENA? AS CONSEQUÊNCIAS DO BREXIT PARA O REINO UNIDO

HISTÓRIA DO BREXIT

O termo Brexit é uma mistura das palavras “Britain” (Grã-Bretanha) e “exit” (saída) e foi utilizado pela primeira vez, pelo ex-advogado Peter Wilding, em maio de 2012. O Reino Unido aderiu à Comunidade Econômica Europeia em 1972 (que mais tarde viria a ser a União Europeia) e, com o passar dos anos, questões foram surgindo até culminar na vontade do afastamento completo ou, como já foi dito diversas vezes pela imprensa, o “pedido de divórcio” entre o Reino Unido e a União Europeia. 

Vale notar que desde sempre, apesar de fazer parte do bloco, o Reino Unido se manteve afastado da União Europeia. Um exemplo claro é a manutenção da libra esterlina, isto é, sua própria moeda, diferente do restante dos países que têm como moeda o euro. Além disso havia divergência em relação a algumas políticas centrais, o que, inclusive, levou o Reino Unido a se abster da aderência ao acordo do espaço Schengen, que permite a livre circulação de pessoas entre os países pertencentes à UE. 

Assim, a partir disso formaram-se dois grupos, os defensores do Brexit e aqueles contrários. Os primeiros argumentavam que, com mais soberania nacional, conseguiriam administrar melhor os movimentos migratórios, se livrar de regulações econômicas onerosas, estimular um crescimento mais dinâmico, etc. Já os contrários diziam que teriam que acontecer novas negociações para uma nova relação comercial com a UE, além do risco da desaceleração da economia, entre outros.

Para confirmar que o “divórcio” era a vontade de todos, houve um referendo convocado pelo parlamento britânico e o resultado foi de 51,89% dos eleitores votando por deixar a União Europeia. Com isso, em 31 de janeiro de 2020, com Boris Johnson a frente do processo, o Reino União declarou sua saída da UE.

CONSEQUÊNCIAS DO BREXIT

Como já havia sido previsto, com a saída do Reino Unido do mercado único e da união aduaneira europeia, novos acordos de comércio tiveram que ser feitos, mudando regras e burocracia para algumas mercadorias. Isso gerou medo sobre os impactos que seriam sofridos em, aproximadamente, US$ 670 bilhões de comércio entre o Reino Unido e a União Europeia. 

Com a pandemia é difícil definir exatamente qual o impacto que deve ser atribuído a ela ou ao Brexit no comércio, mas é notável que no começo houve uma queda nas exportações que, posteriormente, a partir de ajustes, o volume de comércio voltou a crescer aos níveis pré-pandemia. Contudo, ainda sim é possível argumentar que o Brexit causou grandes impactos para as empresas britânicas. 

Esta questão se torna evidente na pesquisa realizada pela entidade British Chambers of Commerce, feita com mais de 500 empresas, que evidenciou que mais da metade ainda enfrenta dificuldades com as novas regras. Já os pequenos exportadores sofreram mais impactos, o que pode inclusive ter provocado o fim de alguns. 

Tendo em vista as importações, também são notáveis os efeitos. Pesquisadores da London School of Economics mostram que os preços dos alimentos importados da UE aumentaram em até 6% em 2020 e 2021. Porém, por outro ângulo, isso fez com que aumentasse a competitividade dos produtores nacionais, o que gerou ganhos de até US$ 6 bilhões.

Agora, observando um cenário mais amplo, vale ressaltar que, com a pandemia, a maioria dos países viveu um momento difícil no comércio internacional. Assim, desde então, a recuperação nas relações comerciais foi melhor nos outros países do G7 – Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália e Japão – do que no Reino Unido. 

ACORDOS COMERCIAIS

Os acordos comerciais são tratados internacionais entre dois ou mais países que reduzem ou eliminam por completo barreiras ao comércio de bens e serviços, podendo englobar outras questões. Assim, grande parte da sociedade é afetada, como os exportadores, importadores, produtores, investidores, entre outros. Além disso, esses acordos proporcionam maior integração econômica, aumento da produtividade e competitividade. 

Com o Reino Unido fazendo parte da União Europeia, firmar acordos comerciais se tornava muito mais fácil. E os novos acordos após o Brexit? São de extrema importância e devem contribuir para melhorar as relações comerciais, apesar de ainda ser cedo para ter certeza. Até fevereiro de 2023, 71 acordos haviam sido fechados, porém a maioria apenas remonta os termos que já existiam quando o Reino Unido ainda estava na UE. 

Alguns acordos novos foram firmados com a Austrália e Nova Zelândia, mas ainda não causam grandes impactos, além de serem polêmicos. Ademais, há negociações com a Índia, países do pacífico e grandes atores internacionais, como os EUA e a China, mas que ainda permanecem indefinidos. Assim, é possível notar que as discussões de antes do Brexit, em que alguns diziam que a saída do Reino Unido contribuiria com novos acordos internacionais mais vantajosos, são colocadas em voga. 

E A MÃO DE OBRA?

Além de bens e serviços, a saída do Reino Unido da UE alterou normas da livre circulação da mão de obra, além de criar um novo sistema de imigração que se baseia em pontuação. Alguns que apoiaram o Brexit, como o diretor da cadeia de moda Next e o diretor da rede de pubs Wetherspoons, não esperavam problemas com isso e agora pedem que o Reino Unido permita mais trabalhadores imigrantes.

As consultorias Center for European Reform e UK in a Changing Europe fizeram um estudo que mostra que há 330 mil trabalhadores a menos no Reino Unido como resultado da saída. Apesar de representar apenas 1% da força de trabalho, para muitos setores faz diferença, como transporte, hotelaria e varejo, o que causa aumento de preços para os consumidores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Reino Unido é uma das maiores economias do mundo e assim permanece. Todavia, tanto com a pandemia como com a saída da União Europeia, efeitos podem ser sentidos em muitos setores. Assim, as discussões levantadas desde antes do Brexit ainda são colocadas em questão porque, afinal, as consequências serão positivas a longo prazo? A saída é a responsável pela situação atual do Reino União? A maior soberania nacional está causando o impacto esperado? As dúvidas são muitas, mas só o tempo para esclarecer tudo. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAVID, Dharshini. Três anos do Brexit: Reino Unido tem pior economia entre países ricos. BBC. 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/ce7314e1w7lo.amp. Acesso em: 01 jun. 2023. 

ZIADY, Hanna. Como o Brexit quebrou as bases econômicas do Reino Unido. CNN Brasil. 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/como-o-brexit-quebrou-as-bases-economicas-do-reino-unido/amp/. Acesso em: 01 jun. 2023.

Acordos comerciais. Gov.br. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/siscomex/pt-br/informacoes/perguntas-frequentes/acordos-comerciais. Acesso em: 01 jun. 2023.

Brexit: o que é, causas e consequências!. 2021. Disponível em: https://blog.stoodi.com.br/blog/atualidades/brexit/. Acesso em: 31 mai. 2023. 

Brexit: os argumentos de quem está contra e a favor. 2016. Disponível em: https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/brexit-os-argumentos-de-quem-esta-contra-e-a-favor#:~:text=Em%20termos%20de%20imigra%C3%A7%C3%A3o,do%20que%20o%20Reino%20Unido. Acesso em: 31 mai. 2023.

IMAGENS

[a] Fia Business School, 2019

[b] Office for National Statistics, 2023

Maya Fernandes Freitas

Nascida e criada em São Paulo e graduanda em Ciências Econômicas pela UFSCar. Tudo que envolve o entendimento de problemas sociais e como superá-los me interessa. Além disso, apaixonada por literatura e esportes.

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