Machtpolitik: a política de poder na segurança internacional.

Machtpolitik: a política de poder na segurança internacional.

Foto por Filip Andrejevic   

Dentro das Relações Internacionais o debate sobre Segurança sempre foi afervescido após grandes episódios históricos, como as Guerras Mundiais e o Ataque às Torres Gêmeas, numa tentativa de entender as motivações dessas ações e trazendo o debate teórico quanto à segurança coletiva, a incidência de novas ameaças e outros. A partir de 2021 o tema voltou a ser um dos grandes pilares centrais de debate que ultrapassa a academia: em veículos de comunicação e no cotidiano são vistos na preocupação ante invasão russa à Ucrânia (tema que abordaremos futuramente na coluna). Mas quais são as estratégias militares que foram utilizadas nestes exemplos? Como e por que países utilizam de sua força militar para resguardar sua segurança e o cumprimento de seus objetivos? Essas são perguntas que buscaremos responder na nova coluna do Dois Níveis, a Machtpolitik. 

    De origem alemã, a palavra “Machtpolitik”, traduzido em Português para Política de Poder, remete a doutrina tida nas relações internacionais e teoria política baseada no uso de poder, especialmente físico militar, na tentativa de alcançar objetivos específicos. Utilizada principalmente por Estados, conta com uma gama de estratégias como a utilização da chantagem, ataques preventivos, demonstração de poderio militar, sanções e imposições econômicas que podem até levar à guerra. São estratégias utilizadas no intuito de proteger os interesses pŕoprios do Estado que a utiliza, e a análise destes pontos é exatamente o que trataremos nesta coluna. 

    Mas antes de iniciar nossos debates de estratégias militares precisamos inicialmente entender onde essas estratégias são colocadas em prática. Categorizado pela Corte de Haia, conflito internacional trata-se de um desacordo entre fato ou direito entre dois Estados e sua presença no sistema internacional é tão antiga quanto o próprio sistema. Abrangendo um enorme espectro de motivações que vão desde questões políticas, culturais, territoriais, religiosas até econômicas, nos dias atuais é possível ver sua presença em todos os continentes do globo, com diferentes características e em diferentes graus. Quando chegam em um ponto que vai além da diplomacia coercitiva e tentativa de compelir outrem, a entrega de recursos humanos, militares, políticos e econômicos são fatores primordiais na definição da limitação do conflito que pode ficar no impasse apenas no âmbito político, mas que podem evoluir para uma guerra limitada ou total. 

Quando, em 1966, Thomas Schelling escreveu em seu livro Armas e Influência que “a face é uma das únicas coisas que vale lutar por”, ele consegue sintetizar um pilar para base de estudos dos comportamentos e da reputação dentro da cooperação e conflitos internacionais. Sendo assim, o sistema internacional possui interações entre atores que levam em conta o comportamento e a reputação quando se relacionam. O entendimento de segurança para cada ator também é importante, uma vez que pode revelar quais são os pontos que ele vê como ameaça para a garantia da sua e quais os métodos ele acredita ser melhor para atingir os outros atores. Com a crescente interdependência e globalização, no entanto, conflitos puramente militares armados e organizados que eram vistos com frequência no passado recente agora dividem espaço com outras formas de conflitos e outras estratégias, que não puramente militares, para atingir seus objetivos.

TIPOS DE CONFLITOS INTERNACIONAIS 

   

Fotografia de Sergei Bobylev/TASS na região de Nagorno-Karabakh, conflito territorial entre Azerbaijão e Armênia.

De maneira abrangente os conflitos internacionais se dividem entre dois grandes grupos: os originados por razões ideológicas e aqueles por questões de disparidade de interesses. É importante lembrar, no entanto, que a questão que inicia um conflito pode ser uma e o estopim para escalada de conflito outra, muitas vezes existem mais de uma motivação que se mesclam entre si. 

    Por razões de divergências ou tentativas de imposição de ideias existem primordialmente três grandes pilares: questões étnicas, religiosas e ideológicas. São atuais exemplos, respectivamente, na Etiópia, no Paquistão e no Haiti. Enquanto pelo conflito de interesses existem outros três pilares: disputa territorial, governamental e econômica. Sendo exemplos, a invasão russa à Ucrânia, o início da guerra na Síria e a questão diplomática Estados Unidos-China, consecutivamente. É importante ter a percepção que os exemplos citados, por várias vezes, não se encaixam apenas em uma dos tipos de conflitos mas sim em várias maneiras e graus diferentes. 

Ainda no ano de 2004 durante o Pinel de Alto Nível de Ameaças à Paz e Segurança promovido pelo diplomata ganês Kafi Annan, enquanto Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, seis grande ameaças foram identificadas: terrorismo; crime organizado transnacional; armas nucleares, radiológicas, químicas e biológicas; conflitos internos incluindo guerras civis, genocídio e atrocidades de grande escala; e ameaças econômicas e sociais incluindo pobreza, doenças infecciosas e degradação ambiental. Essas são as grandes ameaças que vão além do conflito entre Estados, mas podem também incluir grupos rebeldes e grandes empresas como atores. 

POR QUE É IMPORTANTE ENTENDER E ESTUDAR

Navio Korolev (russo), à caminho do mar Negro em 8 de Fev. Burak Akay/Anadolu Agency via Getty Images

    O entendimento da política externa de um país ou da Política de Poder demonstrada por um grupo supranacional é importante para analisar as suas tendências, estudar seus possíveis passos além de demonstrar como a teoria da academia se traduz no campo. Exemplificando com a atual invasão à Ucrânia, por exemplo, têm-se uma política russa de crescente hostilidade e demonstração de seu poder material militar, uma invasão efetiva ao território ucraniano já era esperada há algum tempo por parte de especialistas da área, tendo em vista que as demandas russas não foram bem sucedidas. Portanto, podemos analisar o histórico russo agressivo em contraste com teorias como a da diplomacia coercitiva e compelência de Thomas Schelling e como a falha de sua imposição levou a inevitável invasão e uma vez que levamos a história em consideração conseguimos entender a razão e objetivos de ambos os lados que ocasionam o presente conflito. 

O QUE ESPERAR DA COLUNA? 

    Nesta coluna, então, nos voltaremos para conflitos internacionais que podem, por fim, abarcar uma ou mais destas ameaças e buscaremos contrastar teorias diferentes de dentro da segurança internacional. com os acontecimentos vividos na prática de determinado conflito junto com suas resultantes e o efeito destas sob a perspectiva da teoria e ameaça à segurança internacional. 

A tentativa falha de Putin em coagir a Ucrânia às suas demandas resultou na então escalada de conflitos de diplomáticos para militares, quais foram as estratégias exercidas pelo Kremlin para tentar  conseguir o que queria? O que fez a Ucrânia não ceder às demandas russas? Quais as influências e estratégias externas? A análise de estratégias militares em conflitos internacionais será a principal bússola guiadora da Machtpolitik.

Até breve!

Camila Cavalcanti de Santana

Do agreste pernambucano, é estudante de Relações Internacionais pela Universidade Federal da Paraíba. Apaixonada por Segurança Internacional, América Latina, Direito, café gelado e sua gatinha frajola chamada Olivia.

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