O CRESCIMENTO ECONÔMICO CHINÊS E SUA PARTICIPAÇÃO NO MUNDO

O CRESCIMENTO ECONÔMICO CHINÊS E SUA PARTICIPAÇÃO NO MUNDO

Foto: Markus Winkler (2020)

QUAL A PARTICIPAÇÃO ECONÔMICA DA CHINA NO MUNDO?

Qual a posição da China no Sistema Internacional? Essa pergunta é realizada ao longo dos últimos anos. Se a resposta fosse dada em 1950, seria um país pobre, instável e fechado, com quase nenhuma relevância global. Na década de 1970, o país, ainda fechado comercialmente e com poucos parceiros diplomáticos, já aumenta sua relevância, rivalizando com a União Soviética e já detendo armamento nuclear. Na década de 1990, depois das reformas de Deng Xiaoping, o país tem um boom econômico e inicia sua inserção no comércio mundial. No ano de 2010 o país já era a 5º maior potência econômica. Hoje em dia? A segunda maior, com relacionamento econômico com todo o planeta. Essa ascensão meteórica, em tão poucas gerações, faz com que análises feitas há poucos anos já estejam desatualizadas rapidamente. Entretanto, como está a economia da China hoje? Qual é a projeção econômica do dragão asiático?

Antes de mais nada, é necessário estabelecer ao leitor que dados econômicos (comerciais, de investimento, financeiros, etc.) costumam sofrer variação de acordo com a base de dados que usamos. Portanto, o mais importante é não se prender a um número em específico, e sim analisar as tendências econômicas.

Sendo o país mais populoso do mundo, com mais de 1,4 bilhões de habitantes, a China vêm se destacando na economia mundial desde as reformas liberalizantes do período Deng Xiaoping (1978-1990), que propulsaram o país para o seleto grupo de maiores economias mundiais nos anos vindouros. Em 2000, a China representava 3,6% da economia mundial. Em 2020, o mesmo país representou 17,8% (CEBR, 2020, p. 70) – já constando como a segunda maior economia. Conforme mostra a tabela 1 demonstra, as principais economias do mundo, ano a ano, foram alteradas, e seguem uma tendência de alteração no decorrer da década de 2020, com a China ultrapassando os EUA por volta do ano de 2028, e a Índia se tornando a terceira maior economia global (CEBR, 2020, p. 70).

Tabela 1 – Lista das Maiores Economias do Mundo por Ano
Países200520102015202020252030
Estados Unidos
China
Japão
Alemanha
Reino Unido
Índia13º
França
Itália10º13º
Canadá11º10º
Coreia do Sul10º14º11º10º11º
                                             Fonte: (CEBR, 2020, p. 22), adaptado.

            Mas como um país dominado pela pobreza no século XX se tornará em tão poucas gerações a maior economia do planeta? O que levou os chineses a esse estágio? Parte das respostas são encontradas no governo de Deng Xiaoping e em suas reformas.

EVOLUÇÃO DA ABERTURA CHINESA

Na década de 1970, ocorrem três acontecimentos determinantes para haver um ambiente mais propício às reformas domésticas na China. O primeiro deles é a abertura e início do relacionamento diplomático sino-estadunidense, na qual o assessor de segurança nacional dos EUA Henry Kissinger realiza visita secreta à Pequim, recebido por Mao Zedong, antecipando a famosa visita de Richard Nixon ao país asiático. Após isso, logo no início da década de 1970, o governo chinês estabeleceu plenas relações diplomáticas com os estadunidenses – a estratégia americana se chamava deténte, que era o plano do país de se aproximar dos inimigos dos soviéticos – nesse caso, os chineses – para conter uma expansão da influência soviética no país asiático.

Os outros dois acontecimentos determinantes para as futuras reformas na China ocorrem em janeiro de 1976 e setembro de 1977: os respectivos meses das mortes do Premiê Zhou Enlai e do líder chinês Mao Zedong. Depois de quase 30 anos de Mao à frente do governo chinês, quem assumiu o posto foi o reformista Deng Xiaoping (1978-1990). Deng inicia suas proposições de reformas na agricultura – durante o 11º Comitê Central do Partido Comunista da China (PCC), e ainda no seu primeiro ano à frente do governo. Em 1979 o novo líder, após assumir a liderança da Comissão Militar, criticou abordagens dogmáticas nas políticas do governo, e favoreceu as abordagens pragmáticas (TISDELL, 2009, p. 274-275). A partir de então, iniciaram as maiores reformas da China no século XX.

Em 1981, Deng Xiaoping declarou que as políticas de governo chinesa deviam se pautar em prol da modernização, em bases realistas, pautadas, e em formato progressivo. No ano de 1984 o PCC decidiu que as reformas liberalizantes aplicadas seis anos antes no setor agrícola deviam ser expandidas para toda a economia chinesa, com o fim, ao menos no papel, da posição privilegiada de empresas estatais. Em 1989 Jiang Zemin, que seria o próximo presidente chinês, seguiu os passos de Deng Xiaoping e discursou em prol de uma economia adequada ao mercado e maior abertura econômica, além de incentivos governamentais em ciência e tecnologia (TISDELL, 2009, p. 275).

                  A seguir, durante o governo de Jiang Zemin (1990-2002), as reformas liberalizantes continuaram a ocorrer na China – um dos principais pontos das reformas no governo de Jiang foi a inédita possibilidade de empresas privadas chinesas ou do exterior de investirem em setores tradicionalmente fechados ao monopólio estatal, como o setor energético e de telecomunicações, com algumas poucas ressalvas. O novo governo também desburocratizou algumas exigências que limitavam as atividades e criação de novas empresas privadas, além de possibilitar a privatização de algumas empresas até então estatais (OVIEDO, 2019, p. 234).

Porém, se fosse para definir qual foi a jogada de mestre nessa revolução econômica, qual seria?

[…] O crescimento produtivo na agricultura não só contribuiu para agregar o crescimento da produtividade diretamente, mas também, indiretamente, através da transformação social. Quando a produtividade agrícola aumenta, a demanda por comida é satisfeita com um número menor de trabalhadores no setor agrícola do que antes. Como resultado, alguns trabalhadores podem ser realocados para setores não-agrícolas. Por causa da média de produtividade de trabalho ser geralmente maior em setores não-agrícolas, a realocação de trabalhadores da agricultura contribui positivamente para agregar o crescimento da produtividade

(XIAODONG, 2012, p. 113-114)[1] – tradução própria.       

                  Em 1997, após o 15º Congresso do Partido Comunista, houve mais algumas alterações significativas na estrutura da formulação da política econômica chinesa. Não só o Congresso regularizou e melhorou o ambiente para as empresas privadas como dito anteriormente, mas isso fez com que empreendimentos privados se tornassem cada vez mais comum na China. Além do mais, com a entrada do país na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001, o governo chinês aproveitou para realizar algumas reformas a mais, dentre elas: diminuição de tarifas, expansão dos direitos a comércio e a liberalização das políticas de captação e direcionamento de investimento externo direto (XIAODONG, 2012, p. 117).   

O COMÉRCIO CHINÊS NO SÉCULO XXI

Portanto, logo após entrar na Organização Mundial do Comércio e o país ter passado por duas décadas de reformas econômicas, a China começou a se inserir com ainda mais intensidade nos fluxos comerciais globais. Assim como demonstra a tabela 2, os fluxos de importação da economia chinesa cresceram a taxas impressionantes: apenas entre 2001 e 2006, a China aumentou as suas importações anuais em 225%. Já comparando o ano de 2020 com 2001, o crescimento é de 745%, o que tornou a China a 2º maior economia importadora de bens no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos (ITC, 2021).

Tabela 2 – Dados do Comércio Chinês em comparação ao mundo, Série Histórica
 20012006201120162020
Importações em US$US$ 243 bilhõesUS$ 791 bilhõesUS$ 1.743 bilhõesUS$ 1.588 bilhõesUS$ 2.055 bilhões
Importações Ranking
Exportações em US$US$ 266 bilhõesUS$ 968 bilhõesUS$ 1.898 bilhõesUS$ 2.118 bilhõesUS$ 2.590 bilhões
Exportações Ranking
 Fonte: autoria própria, com dados de ITC (2021)

Já no que tange às exportações, a tendência de crescimento chinês é bem similar. Enquanto o país exportou US$ 266 bilhões em bens no ano de 2001, em 2006 esse número subiu para US$ 968 bilhões, o que representou um aumento na casa de 263% em apenas cinco anos. Quando se compara os dados de 2020 com o ano-base de 2001, o valor subiu 873%, chegando à casa superior dos US$ 2 trilhões exportados em um único ano, inclusive ano este afetado pela pandemia de COVID-19. Durante toda a década de 2010 a China foi o maior exportador do mundo, fato este que a faz ser conhecida como fábrica global – somando exportações e importações, ou seja, considerando o volume comercial total, a China também já supera os Estados Unidos como maior economia comercial do mundo (ITC, 2021).

Assim como demonstrado ainda na tabela 1 no início do artigo, é visto que a China se desenvolveu numa rapidez pouco antes vista na história da humanidade. São diversos os fatores e variáveis que a fez atingir a posição na qual se encontra hoje, e as variáveis que foram trazidas nesse artigo não exauriu todas elas. Ainda há outros fatores econômicos e em especial comercial que justifiquem todo o sucesso da China nas últimas décadas. Mas uma coisa é certa, não apenas a economia chinesa tende a ser a maior do mundo no que tange ao seu PIB, mas o país também se solidifica como o maior parceiro comercial do mundo.

BIBLIOGRAFIA

CEBR. World Economic League Table 2021: a world economic league table with forecasts for 193 countries to 2035. Centre for Economics and Business Research. 12º edição. Dezembro de 2020.

ITC. TradeMap. International Trade Centre. 2021. Disponível em: < https://www.trademap.org/Country_SelProduct_TS.aspx?nvpm=1%7c%7c%7c%7c%7cTOTAL%7c%7c%7c2%7c1%7c1%7c2%7c2%7c1%7c2%7c1%7c1%7c1>. Acesso em: 15 de agosto de 2021.

OVIEDO, Jhon. Determinantes institucionales del Estado para las metas intermedias em China: tecnología nativa, desarollo de la indústria e internacionalización de empresas. Apuntes 85, v. 46, n. 85, p. 231-256, 2019.

TISDELL, Clem. Economic Reform and Openness in China. China’s Development Policies in the Last 30 Years. Economic Analysis & Policy, v. 39. n. 2, p. 271-294, setembro de 2009.

XIAODONG, Zhu. Understanding China’s Growth: Past, Present, and Future. The Journal of Economic Perspectives, v. 26, n. 4, p. 103-124, 2012.

IMAGEM

WINKLER, Marcus. Fruit Supermarket in Beijing in the night. 2020. Unsplash. Disponível em: <https://unsplash.com/photos/_yfRg43pVHk>. Acesso em: 19 de agosto de 2021.


[1] No original: […] productivity growth in agriculture not only contributes to aggregate productivity growth directly, but also indirectly through social transformation. When agricultural productivity increases, food demand can be met with a smaller number of workers in the agricultural sector than before. As a result, some workers can be reallocated to the nonagricultural sector. Because average labor productivity is generally higher in the nonagricultural sector than in the agricultural sector, the reallocation of workers from agriculture contributes positively to aggregate productivity growth.

Gustavo Milhomem

Graduado em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Goiás. Idealizador do Dois Níveis.

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