ISRAEL: 75 ANOS DE AVANÇO TECNOLÓGICO E ECONÔMICO

ISRAEL: 75 ANOS DE AVANÇO TECNOLÓGICO E ECONÔMICO

Bandeira de Israel [a] 

Em 14 de maio de 1948, Israel proclamou a sua independência. Desde então, o país passou por inúmeros conflitos, como a  invasão pós-independência, a Guerra dos Seis Dias em 1967, a Guerra de Yom Kippur de 1973, a 2ª Guerra do Líbano em 2000, até a atual operação turbulenta na Faixa de Gaza. Nesses 75 anos, a nação tem demonstrado uma capacidade ímpar de superação e avanço em momentos de tensão e dificuldade. É possível perceber como aquele povo se utilizou da máxima “A necessidade é a mestra da vida” [1], e fez nascer algo produtivo, diante de suas adversidades.  

A localização de Israel em meio ao deserto, seu pequeno tamanho e densidade demográfica já seriam por si só fatores adversos para expansão e o desenvolvimento. Se somados  os conflitos históricos desde a sua formação, ratifica-se que se trata de um país que realmente fez da necessidade uma chave para o progresso. Neste contexto, o presente artigo visa demonstrar o avanço tecnológico e econômico que o país tem vivido, na contramão da inóspita realidade em que se encontra inserido.  Israel está localizado no Oriente Médio, banhado pelo mar mediterrâneo, fazendo fronteira com Egito, Jordânia, Síria e Líbano.  Localiza-se em uma das regiões com os maiores conflitos do globo, diante da diversidade religiosa e divergências  políticas entre os povos, principalmente entre árabes e judeus.

Eliezer Kaplan assinando a Declaração de Independência no Museu de Tel Aviv, com David Ben Gurion e Moshe Shertok sentados ao lado dele e Ze’ev Sherf atrás – 14/05/1948 [b]

O INVESTIMENTO ISRAELENSE EM TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO 

Na busca por defesa e crescimento, Israel buscou um investimento massivo em tecnologia, recorrendo a um olhar global, em razão do seu diminuto mercado interno. Nesse sentido, denota-se uma forte união entre  Governo, Exército, academia e setor privado, almejando o fomento e a proteção da nação (POMPEU, 2019). O planejamento israelense de investimento em TI (Tecnologia de Informação) se iniciou nos anos de 1950, sendo um projeto a longo prazo de políticas industriais tradicionais e protecionistas que fomentaram  especificamente os setores têxtil e de defesa.  

No início, as atividades de pesquisas eram pequenas e majoritariamente por esforços de instituições públicas. Contudo, com o aumento das demandas, principalmente na esfera da defesa, o setor de TI passou a contar com investimentos e incentivos do governo (BREZNITZ, 2007). Assim, em 1968, foi lançada a agência pública Office of the ChiefScientist  (OCS),  o que levou ao aumento do papel do setor privado na  alta tecnologia.  

As políticas desenvolvidas pela agência focaram, no aprimoramento e na capacitação para criação de produtos P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), passando a olhar para as empresas privadas como agentes nessa área. Assim, o Estado passou a ser o maior fornecedor de capital para atividades do setor (ZAGATO, 2022). Seguindo essa visão, de forma a promover o desenvolvimento de capacidade tecnológica no mercado privado, desde a sua formação, a OCS passou a distribuir  conhecimento, tecnologias e informações das universidades e do setor de defesa para as indústrias  civis, esse passo levou Israel a se tornar protagonista na produção mundial de TI. 

Vinte anos depois da independência, as empresas israelenses já despontaram como pioneiras em áreas de software e hardware, destacando-se produtos como o VoIP (protocolo de voz sobre a internet), encriptação, impressão digital, firewalls, proteção e antivírus (BREZNITZ, 2007).  

A POSIÇÃO PIONEIRA NO AGTECH E FOODTECH  

Assim como nos setores de defesa e produção, Israel precisou explorar soluções em resposta às condições climáticas oriundas de sua geografia. A escassez de água e a pouca amplitude do solo arável levou o país a buscar soluções tecnológicas, colocando a nação, atualmente, na posição de centro de referência no cenário da agrotecnologia.  Os esforços de investimento em pesquisa e desenvolvimento propiciaram essa escalada de Israel na busca pela solução dos problemas da alimentação e da escassez de água, alcançando uma posição pioneira no agtech e foodtech. 

As palavras da diretora-geral adjunta de Inovação do Ministério da Agricultura de Israel, Michal Levy, retratam como o país venceu mais essa barreira : 

“Israel é um país de agricultores de mente aberta que, para sobreviver, precisam experimentar novas tecnologias para lidar com as mudanças climáticas, economizar insumos, diminuir o custo de produção e continuar inovando.” (FORBES, 2020)

Não obstante as dificuldades geopolíticas, tanto pela localização árida, quanto pelos conflitos instalados com países vizinhos, o país se destaca como centro mundial de desenvolvimento agrotecnológico. Nessas áreas, destacam-se algumas inovações como a dessalinização da água, com a produção anual de 200 milhões de metros cúbicos. Cabe também referir-se ao uso maciço de energia solar pela população para aquecimento de água e seu crescente uso para fins industriais, aliando-se ao avanço na tecnologia de irrigação por gotejamento, além  da agricultura intensiva em solo desértico e da produção leiteira (CÂMARA BRASIL-ISRAEL DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA, 2020). 

A EXPANSÃO DO COMÉRCIO EXTERIOR 

Uma vez que o mercado interno israelense é limitado, o crescimento da nação tem sido impulsionado com a expansão de suas exportações. Segundo a OEC (The Observatory of Economic Complexity): 

“Em 2021, Israel era a 28ª economia do mundo em termos de PIB (US$ atuais), a 50ª em exportações totais, a 44ª em importações totais, a 18ª economia em termos de PIB per capita (US$ atuais) e a 20ª economia mais complexa segundo o Índice de Complexidade Econômica (ICE).” (OEC, 2023, tradução nossa)

A adesão do país em 1962 ao GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio)aumentou a sua capacidade competitiva de exportações, com a instituição de uma zona de livre comércio para produtos industriais com a comunidade europeia. A possibilidade de isenção de tarifas nos mercados americano e europeu, com isenção de tarifa alfandegária, expandiu o seu alcance em mais de cem vezes o tamanho do mercado interno. 

Neste mesmo sentido, Israel aderiu à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 2010, o que vem permitindo maior acesso a fundos de investimentos que são controlados com reserva de participações para países desenvolvidos. A entrada da nação  nesta instituição internacional ratificou o reconhecimento da comunidade econômica internacional do expressivo progresso do país.  

Os dados de 2021 são muito otimistas para o país, com um aumento das exportações de serviços na casa dos 30%, segundo o Ministério de Economia e Indústria. Os números das exportações gerais chegaram a US$ 140 bilhões naquele ano, representando um aumento de 18,7%, sendo  os principais destinos União Europeia, EUA e Ásia. (IBI-TECH, 2022) 

O RELACIONAMENTO BRASIL-ISRAEL  

A histórica decisão que levou à criação do Estado de Israel em 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas foi presidida por um diplomata brasileiro, Oswaldo Aranha, em 1947. Desde então, o relacionamento de ambos os países tem sido de amizade e cooperação, com uma longa história de intercâmbio nas áreas técnica, científica e tecnológica. 

Embaixador do Brasil Oswaldo Aranha [c]

O Brasil tem grande potencial para ocupar o posto de maior produtor mundial de alimentos, e Israel tem muito a contribuir com o desenvolvimento brasileiro nesse caminho. Os dois  países têm o potencial de trazer aprendizados valiosos na área do agronegócio para o Brasil.  O embaixador de Israel no Brasil, Yossi Avraham Shelley, declarou : 

“Israel com a sua expertise em tecnologia e inovação pode contribuir no agronegócio brasileiro com projetos para melhorar ou reduzir os custos de mercado para os produtores que vendem milho, soja, café e carne.” (VIVA ISRAEL, 2019)

Essa parceria vem surgindo da cooperação entre  governos estaduais,  governo federal e setor  privado com a nação de Israel. Tal iniciativa pode ser vislumbrada na conexão entre novas startups, estudantes, investidores, empresas e usuários, com o objetivo de desenvolver novos produtos e tecnologias, com viés de crescimento para  aplicação no mercado agropecuário, facilitando e criando oportunidades de negócios.  

CONCLUSÃO 

Decorre-se, então, que o produto mais valorizado em Israel é o conhecimento. E essa sabedoria foi gerada a partir da busca em vencer as dificuldades que se apresentam ao país desde a sua história mais antiga. Assim, a tendência demonstra que o know how adquirido tem feito mais do que trazer desenvolvimento e avanço nacional em meio às dificuldades, mas pode ser apontado como a necessária solução a nível global, face aos desafios que se apresentam.  

É cediço que o mundo está cada vez mais interligado e que conflitos em determinadas regiões têm gerado crises de nível energético, alimentares e tantas outras. Para trazer soluções para estes temas, será cada vez mais requerida maior capacitação para soluções tecnológicas de pesquisas e desenvolvimento. Atualmente, muitas destas soluções se encontram nas mãos de Israel, e será cada vez mais comum observar os demais países buscando parcerias e cooperação com a nação que, por muitos anos, não tinha sequer uma terra para chamar de sua.  

NOTAS 

[1] retórica usada por Marco Túlio Cícero – orador, político e pretor romano (106 a.C. – 43 a.C.) 

IMAGENS

[a] Bandeira Israel Nacional – Foto gratuita no Pixabay – Pixabay 

[b] https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Israel_Declaration_of_Independence_Kaplan.jpg 

[c]https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ambassador_Oswaldo_Aranha_of_Brazil.jpg  

REFERÊNCIAS 

BREZNITZ, D. Innovation and the State – Political choice and strategies for growth in Israel, Taiwan, and Ireland. New Haven/Londres, 2007. Yale University Press. 

CÂMARA BRASIL-ISRAEL DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA. Tecnologia de Israel. Disponível em: <Tecnologia de Israel – Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria (cambicirj.org.br)> Acesso em 10/05/2023. 

EMBAIXADA DE ISRAEL NO BRASIL. Brasil e Israel: uma história de amizade. Disponível em < https://embassies.gov.il/brasilia/Relations/Pages/Brasil%20e%20Israel.aspx >   Acesso em 14/05/2023. 

EMBAIXADA DE ISRAEL NO BRASIL. Economia: Cenário econômico nacional. Disponível em: < https://embassies.gov.il/brasilia/AboutIsrael/Economy/Pages/ECONOMIA-Economico-nacional.aspx> Acesso em 14/05/2023. 

EMBAIXADA DE ISRAEL NO BRASIL. História: Estado de Israel. Disponível em < https://embassies.gov.il/brasilia/AboutIsrael/history/Pages/HISTORIA-Estado-Israel.aspx > Acesso em 14/05/2023. 

FORBES AGRO. Por que Israel é referência em tecnologias capazes de resolver problemas globais. Disponível em: <https://forbes.com.br/negocios/2020/04/por-que-israel-e-referencia-em-tecnologias-capazes-de-resolver-problemas-globais/>  Acesso em 10/05/2023. 

IBI-Tech. Economia de Israel cresce 8,1% em 2021. Disponível em: < https://pt.linkedin.com/pulse/economia-de-israel-cresce-81-em-2021-ibi-tech?trk=pulse-article_more-articles_related-content-card> Acesso em 14/05/2023. 

OEC. Israel (ISR) Exports, Imports, and Trade Partners. Disponível em: <Israel (ISR) Exports, Imports, and Trade Partners | OEC – The Observatory of Economic Complexity> Acesso em 20/05/2023.

POMPEU, Frederico. Israel: a necessidade é a mãe de todas as invenções. Disponível em: <Israel: a necessidade é a mãe de todas as invenções – Época Negócios | Colunas (globo.com)> Acesso em 25/08/2022. 

VIVA ISRAEL. Tecnologia e inovação de Israel podem contribuir com agronegócio. Disponível em: <Tecnologia e inovação de Israel podem contribuir com agronegócio, diz embaixador – Viva Israel> Acesso em 10/05/2023. 

ZAGATO. Lígia. O papel do Estado e da indústria bélica no sucesso tech de Israel. Disponível em: <O papel do Estado e da indústria bélica no sucesso tech de Isra (jornalggn.com.br)> Acesso em 13/05/2023.  

Priscila Tardin

Luso-brasileira, apaixonada pela África. Profissional do Direito que está se especializando em Relações Internacionais para viver o melhor desses dois mundos. Entusiasta de novos desafios e experiências transculturais, com muita facilidade em comunicação e no aprendizado de novos idiomas.

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