O QUE A VITÓRIA DE GIORGIA MELONI NAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS DE 2022 REPRESENTA PARA O FUTURO DA ITÁLIA?

O QUE A VITÓRIA DE GIORGIA MELONI NAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS DE 2022 REPRESENTA PARA O FUTURO DA ITÁLIA?

Fonte: de Barbara Iandolo por Pixabay 

Quem é Giorgia Meloni ?

Giorgia Meloni é a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra no sistema político italiano. As eleições legislativas ocorreram no dia 25 de setembro de 2022. Meloni é uma política italiana do espectro populista da extrema direita europeia. Ela nasceu na cidade de Roma em 1977. Desde seus 19 anos vem participando ativamente na esfera política do país. Durante sua trajetória política, foi membro do partido Movimento Social Italiano, fundado por ex-membros do regime fascista de Benito Mussolini (Kirby, 2022). Posteriormente, Giorgia se filiou ao partido estudantil sucessor do Movimento Social Italiano, chamado Aliança Nacional (Kirby, 2022).

Durante o período entre 2008-2011, atuou como ministra no governo de outro político de extrema direita da Itália, Silvio Berlusconi. Em 2012, Meloni deixou o Aliança Nacional para fundar o seu próprio partido político, o Fratelli d’Italia (Irmãos da Itália), que foi um dos grandes responsáveis por sua vitória nas eleições italianas de 2022 (Gayozzo, 2022).

Quais os fatores que levaram Giorgia Meloni ao cargo de Primeira-Ministra?

A extrema direita encontra-se em um estágio de contínua ascensão nas comunidades europeias e a Itália não mostrou ser uma exceção dessa tendência. Depois do ex primeiro-ministro Mario Draghi perder seu apoio no parlamento italiano, uma coalizão de partidos de extrema direita formado pelos partidos de Meloni, Fratelli d’Italia, Forza Italia (Força Itália), liderado por Silvio Berlusconi e Lega (Liga), do político Matteo Salvini, se articularam e conseguiram garantir a vitória nas eleições legislativas (Araújo, 2022).

Além do sucesso da coalizão, problemas em âmbito interno e externo no país foram responsáveis pelo êxito dos partidos de extrema direita. Fatores como a grande estagnação econômica que a Itália vem apresentado durante os últimos 30 anos, a alta de impostos, aumento do déficit público, crescimento das contas de pensão, em virtude do envelhecimento populacional italiano, somados com o aumento da deterioração das condições sociais, mostraram-se como elementos centrais na insatisfação do eleitorado italiano (Gilbert, 2022).

No campo externo, o atual conflito entre Rússia e Ucrânia, a crise migratória para a Europa, juntamente com a piora das relações diplomáticas do país com outras nações da União Europeia, demonstram ser outros temas importantes na escolha do eleitor italiano (Gilbert 2022; Harlan e Pitrelli 2022). 

Quais são as principais pautas do seu programa de governo?

As principais propostas governamentais conservadoras lideradas por Meloni, Berlusconi e Salvini prevêem o endurecimento das diretrizes no controle da crise migratória, na qual pretendem dificultar a entrada de refugiados e migrantes para a Itália, uma vez que os discursos da coalizão são pautados no medo de substituição dos nativos italianos.  Além disso, os três líderes da extrema direita apresentam visões semelhantes no campo econômico, como a pretensão de se realizar um alto corte de impostos, assim como na defesa dos valores da família tradicional e na valorização da identidade italiana (Horowitz, 2022). 

Em relação à política externa, Meloni afirmou que continuará apoiando a Ucrânia contra as investidas da Rússia, além de que irá procurar manter boas relações diplomáticas com a União Europeia (Araújo 2022; Horowitz 2022).

O que poderá de fato ser implementado no contexto interno e externo da Itália?

Embora tenha vencido as eleições legislativas, a implementação das pautas governamentais que Meloni advoca podem encontrar grandes entraves ao serem colocadas em prática.  Um problema central seria a disparada de preços de energia elétrica, em virtude do conflito entre Rússia e Ucrânia (Harlan e Pitrelli 2022).  Embora a primeira-ministra tenha afirmado que irá continuar garantindo  apoio à Ucrânia, Matteo Salvini e Silvio Berlusconi já chegaram a elogiar as investidas de Vladimir Putin no território ucraniano (Horowitz, 2022). 

No decorrer de sua carreira política como líder do Fratelli d’Italia, Giorgia já expressou posições bastante polarizadas. Ela chegou a defender a dissolução da zona do euro, além de enfatizar que a grande crise migratória para Itália representaria uma substituição étnica no país (Harlan e Pitrelli 2022). Contudo, apesar da radicalização do seu discurso, Meloni teve que adotar uma posição bem mais moderada a fim de garantir sua vitória, especialmente em relação à diplomacia italiana com o bloco da União Europeia (Gilbert, 2022). Por conta da crise econômica que o país vem enfrentando, uma saída do país da zona do euro significaria consequências desastrosas para o futuro da Itália.

 Uma das preocupações centrais em relação ao novo governo é que a popularidade de Meloni pode não durar por muito tempo, principalmente tendo em vista que ela não possui muitas vantagens para alterar políticas no parlamento italiano (Gilbert, 2022). A aprovação de leis no parlamento italiano não é uma tarefa nada fácil e considerando que o governo de Meloni não possui uma maioria nos assentos da Câmara dos Deputados e no Senado, isso deixa pouca margem de manobra política para seu governo (Gilbert, 2022). Além disso,  Giorgia deseja realizar alterações na constituição italiana, a fim de que o presidente do país seja eleito de forma direta. Porém, para realizar tal mudança, seria necessário realizar um referendo ou então possuir uma maioria nas duas casas do parlamento italiano, o que o atual governo não possui. Tais cenários evidenciam o quanto a governabilidade de Meloni será desafiadora. 

O governo de Meloni representa uma retomada do Fascismo italiano?

Uma das grandes controvérsias em relação a Giorgia Meloni tem sido algumas alegações de que seu governo poderia representar um retorno do facismo italiano, levando em conta que a primeira-ministra já defendeu o regime facista de Mussolini, além de suas declarações radicalizadas da saída da Itália da zona do euro. Outra preocupação é a de que a Itália poderia ir para um caminho de democracia iliberal , como é o caso da Hungria de Viktor Orban ou até mesmo a Polônia (Harlan e Pitrelli 2022). 

Apesar de tais questionamentos, o que se tem visto na prática é que Meloni vem procurado moderar em grande escala seu discurso extremista, defendendo seu compromisso com o regime democrático, além de afirmar que não possui admiração alguma pelo facismo. Esses fatos indicam as pretensões da primeira-ministra em afastar a imagem de seu partido dessa pauta bastante polêmica (Gayozzo 2022; Harlan e Pitrelli 2022). Além do mais, a União Europeia também enfatizou que estará em alerta e terá as ferramentas necessárias caso a Itália demonstre estar indo para um caminho do autoritarismo (Harlan e Pitrelli 2022).

 Portanto, na realidade existem poucas chances do governo de Meloni significar uma retomada do facismo italiano. A estratégia da primeira-ministra em suavizar o seu discurso já demonstra uma indicação dessa tendência (Gayozzo, 2022). Assim sendo, em virtude  das limitações políticas que a primeira- ministra possui em âmbito interno e as restrições econômicas no campo externo, as chances da Itália se converter na nova Hungria do continente europeu são bastante reduzidas (Harlan e Pitrelli 2022). 

Meloni necessita das instituições europeias para conter a crise econômica italiana e já retrocedeu em seus comentários radicais, defendendo a permanência da Itália na zona do euro. Desse modo, as tendências indicam que o governo de Meloni representará a  continuação da moderação do discurso radicalizado, tentativas de se manter boas relações diplomáticas com o bloco europeu, além da manutenção do discurso de defesa dos valores tradicionais e da identidade italiana(Araújo, 2022)

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, André. Giorgia Meloni e a política externa italiana. Observatório de Regionalismo. Disponível em: <http://observatorio.repri.org/2022/11/01/giorgia-meloni-e-a-politica-externa-italiana/>. Acesso em: 17 nov. 2022.

GAYOZZO, Piero. Giorgia Meloni, el postfascismo y el populismo de derecha radical en Italia. Pensar. Disponível em: <https://pensar.org/2022/10/giorgia-meloni-el-postfascismo-y-el-populismo-de-derecha-radical-en-italia/>. Acesso em: 17 nov. 2022.

GILBERT, Mark. Analysis | Italy’s new leader faces familiar problems, including fickle voters. Washington Post, 2022. Disponível em: <https://www.washingtonpost.com/politics/2022/09/28/italy-meloni-fdi-election-rightwing/>. Acesso em: 18 nov. 2022.

HARLAN, Chico; PITRELLI, Stefano. Italy election results set up first far-right government since Mussolini. Washington Post, 2022. Disponível em: <https://www.washingtonpost.com/world/2022/09/25/italy-election-results-meloni-right/>. Acesso em: 17 nov. 2022.

HOROWITZ, Jason. Giorgia Meloni Wins Voting in Italy, in Breakthrough for Europe’s Hard Right. The New York Times, 2022. Disponível em: <https://www.nytimes.com/2022/09/25/world/europe/italy-meloni-prime-minister.html>. Acesso em: 17 nov. 2022.

KIRBY, Paul. Who is Giorgia Meloni? The rise to power of Italy’s new far-right PM. BBC News, 2022. Disponível em: <https://www.bbc.com/news/world-europe-63351655>. Acesso em: 17 nov. 2022.

Pedro Henrique Santos Chaves

Graduando em Relações Internacionais pela UFG. Sou fascinado por cinema e literatura de suspense, fantasia e ficção científica. Tenho grande interesse em questões voltadas para o Continente Africano e América Latina, como Guerras Civis, Ditaduras Militares, Intervenções Humanitárias e Terrorismo.

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