MULHERES NAS OLIMPÍADAS

MULHERES NAS OLIMPÍADAS

As Olimpíadas já acabaram, mas você já se perguntou como as mulheres conseguiram conquistar a marca de 48,8% de participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio? Algo que deveria ser natural, ter mulheres no esporte, mas que na verdade foi uma grande luta para que elas conseguissem espaço neste evento.

A primeira edição dos Jogos em 1896 não teve nenhuma participação de mulheres; a edição de 1900, que ocorreu em Paris, teve 2,2% de mulheres. E essa participação de mulheres aconteceu em discordância à vontade de Pierre de Coubertin, criador do COI, que tinha uma frase conhecida sobre sua opinião em relação ao assunto: “É indecente ver mulheres torcendo-se no exercício físico do esporte”. (PINHEIRO, 2020, online).

A participação e a aceitação de mulheres no esporte é um fato recente. A incorporação das mulheres nos Jogos Olímpicos aconteceu gradualmente como consequência de uma luta feita por elas próprias. Isso se principiou a partir do aumento da conscientização e do avanço de um papel mais ativo que elas começaram a efetuar na segunda metade do século XIX e ao longo do século XX (MIRAGAYA, 2007).

Nos tempos da Grécia Antiga, a justificativa para a proibição das mulheres nas Olimpíadas era a de que elas:

deveriam andar cobertas dos pés à cabeça para não serem vistas; logo, elas não podiam participar de competições esportivas porque elas teriam que se expor. Além disso, acreditava-se que o corpo feminino era condicionado para a maternidade (MIRAGAYA, 2007, p. 02).

A primeira Olimpíada da Antiguidade catalogada é de 776 a.C. Só homens podiam competir, mas determinadas mulheres podiam assistir. Estas deveriam ser jovens e solteiras em busca de marido (MIRAGAYA, 2007). Já as mulheres casadas, caso assistissem aos Jogos eram condenadas a pena de morte. Apenas Pitonisa de Demeter, que era casada, possuía autorização para assistir às Olimpíadas (LUZENFICHTER, 1996).

Na Antiguidade, as mulheres já foram feitas de prêmios para os vencedores das corridas de charrete ou biga. Ademais, apenas participaram de forma indireta como competidoras e somente em alguns jogos, como proprietárias de cavalos (MIRAGAYA, 2007).

As Olimpíadas da Antiguidade perduraram 12 séculos e foram dissolvidas em 193 pelo imperador de Roma Teodósio II (LUZENFICHTER, 1996). Em 1894, o barão Pierre de Coubertin propôs o renascimento dos Jogos Olímpicos e fundou o Comitê Olímpico Internacional (COI) para organizar e estruturar as regras das Olimpíadas (MIRAGAYA & DACOSTA, 2006). O Barão decidiu continuar a tradição da Antiguidade e deixou as mulheres fora das quadras e das arenas esportivas (MIRAGAYA, 2007). Quando questionado sobre essa decisão, Coubertin respondeu que “uma olimpíada com mulheres seria impraticável, desinteressante, inestética e imprópria” (TOZZE, 2021).

Uma mulher grega pobre quebrou protocolos em 1896. Stamata Revithi fez o mesmo trajeto de 42 km da maratona no dia seguinte. A última volta ela teve que fazer fora do estádio porque sua entrada foi proibida. Stamata terminou a “corrida menos de duas horas atrás do vencedor (em 4 horas e meia) e foi mais rápida que alguns de seus adversários masculinos” (MIRAGAYA, 2007, p. 05). Ela foi a primeira mulher a buscar inclusão nos Jogos Olímpicos.

As Olimpíadas de 1908, tiveram a presença de atletas femininas, convocadas para demonstrações de ginástica (MIRAGAYA & DACOSTA, 2006). Importante destacar que o patrocínio sempre foi um aspecto determinante para que as mulheres atletas conseguissem participar dos Jogos Olímpicos. Isso porque não são todas as mulheres que têm o apoio de patrocinadores e dos comitês locais. Em razão disso, torna-se complicado para muitas mulheres viajarem para os lugares de competição (MIRAGAYA, 2007).

Como o COI se negava a inserir o atletismo feminino nas Olimpíadas, a francesa Alice de Milliatt instituiu a Fédération Sportive Féminine Internationale (Federação Esportiva Feminina Internacional) e realizou os primeiros Jogos Olímpicos Femininos no ano de 1922 (DREVON, 2005 apud MIRAGAYA, 2007). Os Jogos aconteceram também em 1926, 1930 e 1934, intitulados como The Women’s World Games (Jogos Femininos Mundiais) (MIRAGAYA, 2007).

Os Jogos Femininos fizeram um grande sucesso entre o público e isso fez com que o COI fosse pressionado para incorporá-los às Olimpíadas. O que aconteceu depois de extensas negociações (MIRAGAYA & DACOSTA, 2006). Porém, devido a crença de que a mulher era frágil e um ser que procriava, ela foi excluída de algumas modalidades, como as de força. “E somente aos poucos as equipes femininas de esportes coletivos foram introduzidas nos Jogos Olímpicos” (MIRAGAYA, 2007, p. 08).

Após a inclusão das mulheres nos Jogos, começou o debate sobre quem iria controlar o esporte feminino. As mulheres foram novamente segregadas, devido ao pensamento de que posições de comando teriam que ser exercidas por homens. Assim, elas não puderam ficar à frente do controle da própria atuação no esporte internacional e nacional (MIRAGAYA, 2007).

Depois da Segunda Guerra Mundial e com a entrada da União Soviética e de outros países do bloco do Leste nos Jogos Olímpicos, as mulheres começaram a conquistar mais espaço nas Olimpíadas. Isso visto que os países novos participantes dos Jogos não discriminavam suas atletas; na verdade, elas recebiam investimentos sociais e materiais. Dessa forma, o número de mulheres nas Olimpíadas aumentou de 385 em 1948 para 518 em 1952 (SCHNEIDER, 1996 apud MIRAGAYA, 2007).

Portanto, o número de participação de mulheres nos Jogos Olímpicos tem aumentado. A primeira edição dos Jogos em 1896 não teve nenhuma participação delas, a edição de 1900, que ocorreu em Paris, teve 2,2% de mulheres (PINHEIRO, 2020). Em 2000, na edição de Sydney, as mulheres eram 38,3 % do total de competidores (MIRAGAYA, 2007). Assim, sua participação continuou crescendo. Em Londres, 2012, elas representavam 44,2%. No Rio, em 2016, 45,5%. E, em Tóquio, chegaram a ser 48,8%. A partir de Londres, as mulheres começaram a concorrer em todas as modalidades olímpicas (ZALCMAN, 2020). Abaixo, um gráfico ilustrando o aumento da participação das mulheres nos Jogos Olímpicos.

Yoshiro Mori, ex-presidente da Comissão Organizadora dos Jogos Olímpicos de Tóquio fez uma afirmação sexista, semelhante ao que dizia Pierre de Coubertin. Ele disse: “As reuniões levam muito tempo em conselhos com muitas mulheres”, alegando que mulheres falam muito. Yoshiro recebeu muitas críticas, pediu desculpas e disse que não iria renunciar, porém, uma semana depois ele renunciou ao cargo (TOZZE, 2021).

No lugar dele foi empossada uma presidenta: Seiko Hashimoto. Seiko afirmou que o comitê seria formado com 40% de mulheres. Ela conseguiu um total de 42%. Essa mudança no comitê demonstrou a importância dos jogos serem organizados com representatividade para que tenha igualdade no número de atletas (TOZZE, 2021).

A estimativa é que nas Olimpíadas de Paris, em 2024, as mulheres alcancem 50% do número de atletas participantes, alcançando assim a igualdade de gênero numérica (REDE DO ESPORTE, 2020). Esse marco numérico é uma grande conquista, assim como uma vitória para os direitos das mulheres, entretanto, sabe-se que só a conquista numérica não muda a cultura sexista que ainda as oprime. Por exemplo, a roupa que elas devem usar em algumas modalidades olímpicas, algumas falas preconceituosas que ainda são ditas e a falta de investimento e patrocínio que também sofrem. Apesar disso, a cada edição dos Jogos Olímpicos, as mulheres estão conquistando espaço e lutando por mais respeito e igualdade.

REFERÊNCIAS:

LUZENFICHTER, A. (1996). Women and Olympism. International Olympic Academy. Paper presented at the 36th International Session for Young Participants – IOA Report, Ancient Olympia.

MIRAGAYA, A. & DACOSTA, L. (2006). The Process of Inclusion of Women in the Olympic Games. Tese de doutorado, Universidade Gama Filho.

MIRAGAYA, Ana. As Mulheres Nos Jogos Olímpicos Participação E Inclusão Social. 2007 Disponível em: http://www.sportsinbrazil.com.br/capitulos/as_mulheres_jogos_olimpicos.pdf. Acesso em: 27 out. 2021.

PINHEIRO, Giovana. Persona non grata: o histórico das mulheres nas olimpíadas. o histórico das mulheres nas Olimpíadas. 2020. Disponível em: https://www.olimpiadatododia.com.br/curiosidades-olimpicas/250498-historico-mulheres-nas-olimpiadas/. Acesso em: 26 out. 2021.

REDE DO ESPORTE. Jogos Olímpicos terão igualdade de gênero na distribuição de vagas pela primeira vez. 2020. Disponível em: http://rededoesporte.gov.br/pt-br/noticias/paris-2024-tera-igualdade-de-genero-na-distribuicao-de-vagas-pela-primeira-vez-na-historia. Acesso em: 29 out. 2021.

TOZZE, Humberto. Os marcos da inclusão feminina nos Jogos Olímpicos ao longo dos anos. 2021. Disponível em: https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2021/07/nem-sempre-olimpiadas-foram-lugar-de-mulher-aqui-os-marcos-da-inclusao-feminina-nos-jogos.html. Acesso em: 27 out. 2021.

ZALCMAN, Fernanda. Crescimento e igualdade: teremos uma rainha em tóquio. teremos uma rainha em Tóquio. 2020. Disponível em: https://www.olimpiadatododia.com.br/olimpiada/219270-crescimento-e-igualdade-teremos-uma-rainha-nos-jogos-olimpicos-toquio/. Acesso em: 26 nov. 2021.

Thaynara dos Santos

Formada em Relações Internacionais pela Universidade Católica de Brasília. Apaixonada pela área de Direitos Humanos das mulheres.

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